Cetoconazol: Bula simplificada

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Cetoconazol

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O que é o medicamento cetoconazol?

O cetoconazol é um antifúngico com mais de 30 anos de mercado, que pode ser encontrado sob a forma de comprimidos, creme, pomada ou xampu. Esse antifúngico pertence ao grupo dos azóis, a mesma família de antifúngicos do fluconazol e do itraconazol.

O cetoconazol pode tratar desde micoses superficiais de pele até infecções fúngicas sistêmicas, que acometem órgãos internos.

Neste artigo explicaremos a sua utilidade, forma de administração, efeitos colaterais e vantagens e desvantagens em relação aos outros antifúngicos no mercado.

Nota: este texto não aspira ser uma bula completa do cetoconazol. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações sobre este antifúngico.

Indicações – Para que serve

O cetoconazol, seja ele em comprimidos ou para uso tópico (cremes, pomadas ou xampu) é um antifúngico que pode ser utilizado para tratar diversos tipos de infecção fúngica. As indicações mais comuns são:

Pomada ou creme:

Xampu:

  • Dermatite seborreica.
  • Pitiríase versicolor (Pano branco).
  • Caspa.

Comprimidos:

  • Candidíase vaginal*.
  • Candidíase oral*.
  • Candidíase sistêmica.
  • Pitiríase versicolor (Pano branco)*.
  • Coccidioidomicose.
  • Paracoccidioidomicose.
  • Criptococose.
  • Blastomicose.
  • Histoplasmose.
  • Cromomicose.

* O cetoconazol é um antifúngico com boa ação sobre as diversas formas de candidíase, porém, por ser uma droga com potencial tóxico mais elevado que outras semelhantes, a sua apresentação em comprimidos tem deixado de ser utilizada no tratamento de infecções fúngicas menos graves, como as candidíases de pele, boca e vagina, ou nos casos de pano branco. Explicaremos mais adiante os riscos do cetoconazol.

Nomes comerciais e apresentações

O cetoconazol é uma droga que já pode ser encontrada sob a forma genérica, tanto no Brasil quanto em Portugal. Também existes diversas marcas comerciais do cetoconazol. Alguns exemplos são:

  • Arcolan – Creme ou Xampu.
  • Candiderm – Creme.
  • Candoral – Comprimido.
  • Capel – Xampu.
  • Cetomed – Comprimido.
  • Cetomicoss – Creme.
  • Cetoneo – Xampu.
  • Cetozol – Creme.
  • Cleartop – Creme ou Xampu.
  • Fungoral – Comprimido, Creme ou Xampu.
  • Lozan – Comprimido, Creme ou Xampu.
  • Nizale – Comprimido.
  • Nizoral – Comprimido, Creme ou Xampu.
  • Tedol – Creme ou Xampu.
  • Zolmicol – Comprimido ou Creme.

O cetoconazol também costuma ser comercializado em pomada ou creme junto com a betametasona (corticoide) e a neomicina (antibiótico). As marcas mais comuns são:

  • Candicort – cetoconazol + betametasona.
  • Celocort – cetoconazol + betametasona + neomicina.
  • Fungicort– cetoconazol + betametasona.
  • Novacort – cetoconazol + betametasona + neomicina.
  • Trok – cetoconazol + betametasona.
  • Trok N – cetoconazol + betametasona + neomicina.

Em geral, se o objetivo é tratar de forma tópica uma infecção de origem fúngica, basta um creme ou pomada que possua um antifúngico. A adição da betametasona ou da neomicina em nada ajuda, podendo, em alguns casos, até atrapalhar o tratamento. Se é para tratar micose de pele, dê preferência às pomadas ou cremes com cetoconazol puro.

Posologia – Como tomar

O tempo de tratamento do cetoconazol depende da infecção fúngica e da apresentação do medicamento.

O tratamento da caspa e da dermatite seborreica com xampu costuma ser feito com duas aplicações por semana por 4 a 8 semanas, conforme a resposta clínica. Sugere-se um intervalo de pelo menos 3 dias entre cada aplicação.

Cremes e pomadas costumam ser aplicados uma vez por dia nas lesões. Nas micoses de pele, o tratamento costuma ser por 2 semanas. Na frieira, o tratamento leva 6 semanas.

O tratamento com comprimidos costuma ser reservado para as infecções fúngicas mais graves. Em geral, o paciente toma 200 a 400 mg por dia até resolução da infecção, o que pode durar até 6 meses em alguns casos.

Efeitos colaterais

Os casos mais graves de efeitos colaterais ocorrem, logicamente, nos tratamentos feitos com comprimidos, principalmente aqueles com doses mais altas e por períodos longos. Os efeitos adversos do cetoconazol em creme ou xampu costumam ser leves e restritos à pele. Falaremos sobre os efeitos mais comuns de cada apresentação.

  • Efeitos colaterais do cetoconazol creme: queimação na pele, vermelhidão, coceira, acne, dermatite de contato e ressecamento da pele são os efeitos adversos mais comuns. O efeito mais comum é a queimação, que ocorre em cerca de 4% dos casos.
  • Efeitos colaterais do cetoconazol xampu: irritação, pele seca, queimação, irritação do couro cabeludo ou queda de cabelo podem ocorrer. Estes efeitos, porém, são incomuns, ocorrendo em menos de 1% dos casos.
  • Efeitos colaterais do cetoconazol por via oral: náuseas, dor abdominal, vômitos ou diarreia são os efeitos colaterais mais comuns, ocorrendo em cerca de 3% dos casos.

Todos os antifúngicos azóis podem causar toxicidade no fígado quando tomados por via oral, mas esse efeito parece ser mais comum com o cetoconazol (cerca de 15% dos pacientes), motivo pelo qual esta droga tem sido cada vez menos indicada pelos médicos. Outra preocupação é em relação ao risco de insuficiência adrenal induzida pelo cetoconazol.

Estudos não conseguiram demonstrar absorção sistêmica relevante do cetoconazol em xampu, mesmo quando usado por período prolongado. Em relação ao cetoconazol em pomada ou creme, até há alguma absorção, mas a concentração sanguínea da droga após a aplicação na pele é mais de 250 vezes menor que a concentração sanguínea alcançada com a droga por via oral. Portanto, não existe risco de lesão aguda do fígado nem de insuficiência adrenal nas formas tópicas.

Comparação entre cetoconazol e outros antifúngicos

O cetoconazol é a mais antiga droga do grupo dos azóis, estando presente no mercado desde 1976. O cetoconazol sempre foi um antifúngico muito popular para o tratamento de diversas micoses. Porém, conforme explicado acima, nos últimos anos, alguns estudos apontam um risco de lesão hepática acima do aceitável. Por este motivo, as agências de saúde da Europa e dos EUA têm recomendado aos médicos abandonar o uso de cetoconazol em comprimidos.

Como o fluconazol e o itraconazol possuem um perfil de efeitos colaterais mais benigno, já não faz mais sentido tratar infecções fúngicas simples, como candidíase vaginal, pano branco ou tínea com o cetoconazol em comprimidos. E mesmo para infecções fúngicas mais graves, como blastomicose e histoplasmose, o cetoconazol não deve ser a primeira escolha.

Portanto, o médico só deve optar pela prescrição do cetoconazol em comprimidos caso considere que o fluconazol ou o itraconazol não sejam opções válidas para o caso em particular. Caso o médico opte pelo cetoconazol, ele deve fazer análises frequentes das enzimas hepáticas de forma a monitorizar o grau de funcionamento do fígado (leia: O que significam tgo, tgp, gama gt e bilirrubina?).

Contraindicações

Além dos casos prévios de alergia a qualquer um dos antifúngicos azóis (fluconazol, itraconazol ou voriconazol), o cetoconazol também não deve ser administrado em pacientes com história de doença hepática.

O cetoconazol é considerado um medicamento de categoria C na gravidez, o que significa que o seu uso deve ser evitado (leia: Antibióticos na gravidez – Seguros ou perigosos?).

O cetoconazol é excretado no leite materno, sendo, portanto, também contraindicado durante a amamentação.

Apesar da irrelevante aborção sistêmica do cetoconazol em xampu ou creme, por segurança, alguns fabricantes (não todos) costumam manter a advertência para grávidas e lactantes também em relação às apresentações tópicas do antifúngico.

Interações medicamentosas

Não há interações relevantes em relação ao cetoconazol em xampu ou creme.

Em relação ao cetoconazol por via oral, os seguintes medicamentos não devem ser administrados concomitantemente: alprazolam, midazolam, cisaprida, colchicina, ergotamina, felodipino, sinvastatina, lovastatina, metadona, everolimo e quinidina.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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