O que é a bromoprida?
A bromoprida, também conhecida pelo nome comercial Digesan, é um fármaco que age estimulando a motricidade gástrica e acelerando o esvaziamento do estômago, o que o torna útil nos casos de refluxo gastroesofágico e para os paciente com quadro de náuseas e vômitos.
Esse texto não visa reproduzir a bula completa da bromoprida. O que faremos é uma revisão crítica do fármaco em linguagem mais acessível ao público leigo, eliminando as partes da bula que contém linguagem mais técnica e ressaltando as informações que são realmente relevantes para os pacientes que desejam tomar o medicamento.
Para que serve
Em resumo, a principal ação da bromoprida é acelerar o esvaziamento do estômago, fazendo com que alimentos presentes no seu interior sejam mais rapidamente transferidos para os intestinos.
A principal ação da bromoprida está relacionada ao bloqueio dos receptores da dopamina no sistema nervoso central e no trato gastrointestinal, de forma semelhante ao que faz a metoclopramida, mais conhecida pelo nome comercial Plasil. De fato, a bromoprida e a metoclopramida são substâncias quase idênticas, partilhando o mesmo mecanismo de ação e os efeitos colaterais.
Falamos especificamente da metoclopramida no artigo: Metoclopramida (plasil) – para que serve?
O bloqueio dos receptores da dopamina aumenta a força e a amplitude das contrações gástricas e relaxa o esfíncter pilórico, facilitando o esvaziamento gástrico e o acelerando o trânsito intestinal, além de também combater as náuseas e vômitos. A bromoprida é, portanto, um antiemético e um procinético.
Desta forma, a bromoprida costuma ser indicada para as seguintes situações:
- Distúrbios da motilidade gastrintestinal;
- Refluxo gastroesofágico;
- Náuseas e vômitos de origem central ou periférica (cirurgias, distúrbios metabólicos, infecções ou efeitos secundários ao uso de medicamentos).
Nomes comerciais
A bromoprida pode ser encontrada nas farmácias sob a sua forma genérica ou através dos seus vários nomes comerciais.
Como já referido, o nome comercial mais famoso é Digesan, medicamento produzido pelo laboratório Sanofi-Aventis e que é considerado a marca de referência para a substância bromoprida.
Os outros nomes comerciais comuns são:
- Bromogex.
- Bromopan.
- Digesprid.
- Digesigma
- Digesol.
- Digestil.
- Digestina.
- Digevita
- Fagico.
- Gastrobene.
- Pangest.
- Plamet.
- Pridecil.
Como tomar
A bromoprida pode ser encontrada nas formas de cápsulas de 10 mg, em solução oral 1 mg/ml ou gotas 4 mg/ml.
A ação do medicamento se inicia cerca de 30 minutos após administração por via oral e o seu pico de ação ocorre entre 1 e 2 horas. A alimentação não interfere na ação da bromoprida.
Cápsulas de 10 mg (uso somente em adultos)
1 cápsula de 12/12 h ou de 8/8 h (dose máxima diária: 60 mg).
Nota: as cápsulas devem ser deglutidas íntegras, não podendo ser mastigadas, abertas ou esmagadas.
Solução oral 1 mg/ml
Uso em adultos:
10 mL (10 mg) de 12/12h ou de 8/8h conforme orientação médica (dose máxima 60 mg/dia).
Uso em crianças:
0,5 ml (0,5 mg) a 1 ml (1,0 mg) por quilo de peso, dividida em três tomadas diárias.
Gotas pediátricas 4 mg/ml
1 a 2 gotas por quilo de peso, três vezes ao dia.
Correção da dose para pacientes com insuficiência renal crônica
Como a principal via de eliminação da bromoprida é através da urina, nos pacientes com insuficiência renal crônica e taxa de filtração glomerular inferior a 40 mL/min, o tratamento deve ser iniciado com aproximadamente metade da dose recomendada.
Efeitos colaterais
A bromoprida é um medicamento bem tolerado pela imensa maioria dos pacientes, apresentando poucos e raros efeitos colateiras graves. Entre as reações adversas mais frequentes podemos citar: inquietação, sonolência e cansaço, que ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes.
Mais raramente, também podem ocorrer:
- Insônia.
- Dor de cabeça.
- Tontura.
- Sintomas extrapiramidais*.
- Movimentos involuntários.
- Galactorreia (secreção de leite pelas mamas).
- Ginecomastia (aumento do volume das mamas em homens).
- Retenção de líquido.
- Erupções cutâneas, incluindo urticária.
- Confusão mental.
- Náuseas.
- Diarreia.
- Incontinência urinária.
- Hipertensão arterial.
- Depressão.
- Aumento da pressão intraocular.
Devido ao maior risco de efeitos colaterais, o uso da bromoprida deve ser feito com cautela nos seguintes grupos: crianças, idosos, pessoas que sofrem de glaucoma, diabetes, doença de Parkinson, insuficiência renal, hipertensão e pessoas sensíveis a fármacos antipsicóticos.
Pacientes com história reação alérgica à aspirina (ácido acetilsalicílico), à procaína (anestésico) ou à procainamida (medicamento para arritmia cardíaca) podem apresentar também reação à bromoprida.
* Sintomas extrapiramidais: são reações distônicas agudas que surgem nas primeiras 24 a 48 horas de uso. O risco dessas reações é mais elevado quado doses superiores às recomendadas são utilizadas e em pacientes com menos de 30 anos de idade. Os sintomas podem incluir movimentos involuntários dos membros, contrações dos músculos da face, torcicolo, protrusão da língua, alterações da fala e trismo (contratura dolorosa da musculatura da mandíbula).
Contraindicações
A bromoprida não deve ser utilizada nos seguintes casos:
- Pacientes com antecedentes de alergia aos componentes da fórmula.
- Quando a estimulação da motilidade gastrintestinal pode ser perigosa, como, por exemplo, na presença de hemorragia, obstrução mecânica ou perfuração gastrintestinal.
- Pacientes epilépticos ou que estejam recebendo outros medicamentos que possam causar reações extrapiramidais.
- Pacientes com história de discinesia tardia ou reação distônica à bromoprida.
- Crianças menores de 1 ano de idade, devido ao risco aumentado da ocorrência de agitação, irritabilidade e convulsões.
- Pacientes com feocromocitoma.
Uso durante a gravidez e lactação
A bromoprida é um medicamento que apresenta graduação C na categoria de risco na gravidez. Isso significa que não existem estudos científicos adequados e bem controlados sobre a ação desse fármaco nas mulheres grávidas. Sendo assim, a bromoprida não deve ser administrada a grávidas, a menos que, a critério médico, os benefícios potenciais para a paciente superem os possíveis riscos para o feto.
A bromoprida é excretada pelo leite materno, não devendo, portanto, ser administrada em mulheres que estão amamentando.
Interações medicamentosas
Os efeitos de bromoprida na motilidade gastrointestinal são inibidos por medicamentos com ação anticolinérgicas ou analgésicos opioides, como a morfina ou o fentanil.
O efeito sedativo da bromoprida pode ser potencializado quando ela é administrada concomitantemente com sedativos, hipnóticos, narcóticos ou tranquilizantes.
A bromoprida pode diminuir a absorção de fármacos pelo estômago (como a digoxina) e acelerar aquelas que são absorvidas pelo intestino delgado (como o paracetamol, tetraciclina, levodopa e bebidas alcoólicas). Pode haver potencialização dos efeitos sedativos quando se administra bromoprida junto com álcool.
Medicamentos inibidores da monoaminoxidase (MAO), quando associados à bromoprida, podem aumentar a liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) e causar pico hipertensivo nos pacientes hipertensos.
Por serem fármacos quase idênticos, a bromoprida não deve ser administrada em conjunto com a metoclopramida, pois ambas potencializam os seus efeitos colaterais, que são semelhantes.
A bromoprida não interfere com a eficácia dos anticoncepcionais.
Não há dados disponíveis até o momento sobre a interferência de bromoprida nos resultados de testes laboratoriais.
Referências
- Bromoprida Medley Farmacêutica Ltda. cápsulas 10 mg – Bula do fabricante.
- Bromoprida Prati-Donaduzzi Solução oral 4 mg/mL – Bula do fabricante.
- Bromoprida Novafarma Indústria Farmacêutica Ltda. Solução injetável 5mg/mL – Bula do fabricante.
- Pharmacokinetics and bioavailability of the anti‐emetic agent bromopride – Biopharmaceutics Drug Disposition.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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