Introdução
O ácido mefenâmico, também conhecido pelo nome comercial Ponstan, é um medicamento da classe dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE), que apresenta propriedades analgésicas e anti-inflamatórias.
Apesar do ácido mefenâmico ter um efeito inflamatório e analgésico de leve a moderada intensidade, ele parece ser especialmente eficaz no tratamento da cólica menstrual.
Nota: este texto não visa reproduzir a bula completa do ácido mefenâmico. O que faremos é uma revisão crítica do fármaco em linguagem mais acessível ao público leigo, eliminando as partes da bula que contém linguagem mais técnica e ressaltando as informações que são realmente relevantes para os pacientes que desejam tomar o medicamento.
Se você procura informações gerais sobre todos os fármacos da classe dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE), leia: Anti-inflamatórios – Ação e Efeitos Colaterais.
Para que serve
O ácido mefenâmico é habitualmente indicado para:
- Tratamento da dor nos pacientes com artrite reumatoide.
- Tratamento da dor nos pacientes com osteoartrose.
- Dores de leve a moderada intensidade, incluindo dor de cabeça, muscular, traumática, dentária, pós-operatória e pós-parto.
- Dismenorreia primária (cólica menstrual).
- Menorragia (fluxo menstrual intenso).
- Tensão pré-menstrual.
Dentre todas as condições citadas acima, a dismenorreia primária é a causa mais comum de prescrição do ácido mefenâmico.
Por que o ácido mefenâmico parece ser a melhor opção para a cólica menstrual?
Ao longo da primeira fase do ciclo menstrual, o endométrio — parede interna do útero — vai se tornando cada vez mais espesso e vascularizado, de forma a estar apto para receber um embrião, caso a mulher seja fecundada após a ovulação. Porém, se o óvulo não for fecundado, os níveis dos hormônios que estimularam a proliferação endometrial na primeira fase do ciclo cai bastante, e essa espessa parede uterina literalmente desaba, caracterizando a menstruação.
Para que todo esse tecido desvitalizado seja expulso, o útero precisa se contrair com frequência, motivo pelo qual as mulheres sentem cólicas durante a menstruação. Essa contração uterina é provocada por mediadores químicos chamados prostaglandinas.
Em algumas mulheres, as prostaglandinas agem de forma exagerada, provocando contrações tão intensas, que até mesmos os vasos sanguíneos uterinos ficam comprimidos, causando uma isquemia temporária do útero. As mulheres que costumam ter intensas cólicas menstruais geralmente apresentam níveis elevados de prostaglandina no fluido menstrual.
Enquanto a maioria dos anti-inflamatórios age inibindo a produção das prostaglandinas, o ácido mefenâmico também age nas prostaglandinas já produzidas. Por conta desse efeito extra, apesar de todos os anti-inflamatórios serem eficazes no tratamento da cólica menstrual, o ácido mefenâmico parece ser aquele com os melhores resultados.
Nomes comerciais
O ácido mefenâmico pode ser encontrado na sua forma genérica ou através dos diversos nomes comerciais disponíveis no mercado, entre os quais destacamos:
- Ponsdril.
- Ponstan.
- Pontin.
- Pontrex.
- Standor.
A única apresentação disponível no mercado brasileiro, seja na forma genérica ou de marca, é a de comprimidos de 500 mg. Já Portugal, o ácido mefenâmico é vendido apenas sob a marca Ponstan com comprimidos de 250 mg.
Preço médio
No Brasil, a caixa do medicamento genérico com 24 comprimidos de 500 mg custa em torno de 7 reais. Já a caixa de 24 comprimidos de 500 mg do Ponstan custa entre 14 e 30 reais.
Em Portugal, o Ponstan de 250 mg custa em torno de 3,40 euros a caixa com 20 comprimidos e 4,80 euros a caixa com 60 comprimidos.
Como tomar
Existem duas formas corretas de administração do ácido mefenâmico:
- 1 comprimido de 500 mg de 8/8 horas por 3 a 5 dias.
- 1 comprimido inicial de 500 mg seguido de 250 mg a cada 6 horas por 3 a 5 dias.
Devido aos riscos de efeitos colaterais, recomenda-se que o medicamento não seja utilizado por mais de 7 dias seguidos.
O comprimido pode ser administrado junto às refeições, mas ele não deve ser partido, triturado ou mastigado.
Efeitos colaterais
Os efeitos adversos mais comuns do ácido mefenâmico são:
- Tonturas.
- Dor de cabeça.
- Nervosismo.
- Prurido.
- Erupção cutânea.
- Retenção de líquidos.
- Hipertensão arterial.
- Insuficiência renal aguda com elevação da creatinina sanguínea.
- Hipercalemia (elevação do potássio sanguíneo).
- Cólicas abdominais.
- Prisão de ventre.
- Diarreia.
- Flatulência.
- Gastrite.
- Dispepsia (queimação estomacal).
- Úlcera duodenal ou gástrica (com risco de sangramento ou perfuração).
- Sangramento.
- Aumento das enzimas hepáticas (TGO e TGP).
- Zumbido.
Por ser um medicamento anti-inflamatório não esteroide, o ácido mefenâmico compartilha dos efeitos adversos mais graves dessa classe, sendo os mais relevantes o risco de úlcera péptica, a lesão renal aguda e o aumento do risco de eventos cardiovasculares. Quanto mais prolongado for o uso do AINE, maior é a chance de surgirem essas complicações.
Para minimizar o risco de efeitos colaterais graves, sugere-se o uso do medicamento por apenas 3 a 5 dias seguidos, além evitar a sua administração em pessoas acima de 65 anos.
Contraindicações e precauções
O ácido mefenâmico não deve ser administrado a nenhum paciente que já tenha tido reação alérgica ou crise de broncoespasmo relacionada a qualquer AINE ou ácido acetilsalicílico.
Como os anti-inflamatórios inibem a ação das plaquetas, nos pacientes com cirurgia programada, o medicamento deve ser suspenso pelo menos 48 horas antes do procedimento para reduzir o risco de hemorragia no período intra e pós-operatório.
O ácido mefenâmico também deve ser evitado nos pacientes com as seguintes condições:
- Insuficiência cardíaca.
- Elevado risco de doenças cardiovascular.
- Passado de gastrite ou úlcera péptica.
- História de hemorragia digestiva.
- Insuficiência renal.
- Doença hepática avançada, como cirrose.
- Hipertensão arterial mal controlada.
- Sangramentos ativos.
- Trombocitopenia (nível sanguíneo de plaquetas muito baixo).
- Hipercalemia (níveis elevados de potássio no sangue).
- Gravidez.
- Aleitamento materno.
Qualquer anti-inflamatório não esteroide pode prejudicar a fertilidade feminina, devendo, assim, também ser evitado em mulheres que estão tentando engravidar.
Interações medicamentosas
A associação do ácido mefenâmico com outros medicamentos pode causar os seguintes efeitos adversos por interação medicamentosa:
- Qualquer outro AINE: elevado risco de lesão gastrintestinal e renal.
- Álcool: elevado risco de efeitos adversos gastrintestinais e toxicidade do fígado.
- Anticoagulantes (heparina e varfarina): aumento do risco de sangramento.
- Inibidores da agregação plaquetária (ex.ticlopidina e clopidogrel): aumento do risco de sangramento.
- Lítio: risco de aumento dos níveis de lítio no sangue.
- Metotrexato: aumento do risco de toxicidade hematológica.
- Colchicina: aumenta o risco de ulceração ou hemorragia gastrintestinal.
- Corticosteroides (ex. prednisona, prednisolona, dexametasona): aumento do risco de ulceração ou sangramento gastrintestinal.
- Diuréticos (ex. furosemida, hidroclorotiazida, clortalidona): redução da efetividade do diurético e maior risco de desenvolvimento de insuficiência renal aguda.
- Espironolactona: aumento do risco de hipercalemia (elevação do potássio no sangue) e lesão renal aguda.
- Inibidores da ECA (ex. ramipril, enalapril, lisinopril) ou antagonistas da angiotensina II (ex. irbesartan, losartan, valsartan): aumento do risco de hipercalemia (elevação do potássio no sangue) e lesão renal aguda.
- Tenofovir: aumenta o risco de lesão renal aguda.
- Medicamentos anti-hipertensivos: risco de redução do efeito anti-hipertensivo.
- Ciclosporina ou tacrolimo: aumenta o risco de lesão renal aguda e hipertensão arterial.
- Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ex. fluoxetina, paroxetina, sertralina): aumento do risco de sangramento gastrintestinal.
- Ginkgo biloba: aumento do risco de sangramentos.
- Insulina ou agentes hipoglicemiantes orais: aumento do risco de hipoglicemia.
Alerte o seu médico se você estiver tomando qualquer um dos fármacos citados acima.
Referências
- Mefenamic acid: Drug information – UpToDate.
- Dysmenorrhea in adult women: Treatment – UpToDate.
- Mefenamic Acid – U.S. National Library of Medicine.
- Mefenamic Acid – Capsule – DailyMed.
- Ponstan® – ácido mefenâmico – Bula do Fabricante: Wyeth.
- Ponstan 250 mg cápsulas – Ácido mefenâmico – Infarmed.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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