Introdução
O exame de ressonância magnética nuclear (RMN) é uma técnica que envolve a utilização de campos magnéticos e ondas de rádio, de forma a criar imagens computadorizadas do interior do corpo humano com grande definição.
A grande vantagem da ressonância magnética em relações aos outros exames de imagem radiológicos é a sua capacidade de gerar imagens nítidas sem precisar recorrer à radiação ionizante (raio-x), como são os casos da tomografia computadorizada, da angiografia e da radiografia comum.
Desenvolvida nos anos 70, a ressonância magnética vem ganhando popularidade nas últimas 2 décadas, conforme o aperfeiçoamento da sua tecnologia tem permitido reduções no seu custo e um maior conforto do paciente durante a realização do exame.
Neste artigo explicamos como é feito o exame de ressonância magnética, quais são suas contraindicações e qual é o preparo necessário.
Como é feita?
Na maioria dos casos, não é preciso nenhum preparo especial para a realização de um exame de ressonância magnética nuclear. O único cuidado básico é evitar que o paciente entre na máquina portando algum objeto metálico consigo, pois durante o exame, um campo magnético extremamente forte é gerado, criando um poderosíssimo ímã, que pode atrair de forma violenta qualquer material que seja de metal. Para se ter uma ideia da força magnética gerada, uma cadeira de metal ou mesmo um tanque de oxigênio podem se transformar em projéteis, sendo atraídos em direção à máquina.
Entre os objetos pessoais que devem ser removidos antes do exame de RMN estão a carteira, relógio, brincos, anéis, dentadura, aparelhos auditivos, óculos, grampos de cabelo, etc. Em geral, o mais seguro é deixar o paciente apenas com a roupa de baixo (sutiã com arame também não pode ser usado) e vesti-lo com um avental fornecido pela clínica.
A maioria das máquinas de ressonância magnética ainda são em forma de túnel, com abertura em ambas as extremidades. O paciente deita-se em uma maca que se move em direção ao interior do aparelho na hora do exame. O procedimento dura entre 15 a 90 minutos, dependo do tamanho da área que será abordada e do número de imagens necessárias para o estudo. Durante o exame, o paciente precisa manter-se imóvel para que as imagens não saiam tremidas ou desfocadas.
A ressonância magnética é um exame indolor, mas o fato do paciente ter que ficar imóvel dentro de um túnel fechado por vários minutos pode ser extremamente angustiante para algumas pessoas. Já existem máquinas abertas, como exemplificada na imagem abaixo, mas, em geral, elas são menos potentes e não costumam gerar imagens com definição tão boa quanto as máquinas fechadas.
A máquina de ressonância magnética também costuma ser muito barulhenta, o que pode colaborar para o mal-estar dentro da mesma. Para diminuir o incômodo do barulho, protetores de ouvido serão fornecidos. Algumas clínicas fornecem fones de ouvido para o paciente ouvir música durante o processo. Crianças e pessoas claustrofóbicas e/ou ansiosas precisam ser sedadas para conseguirem permanecer imóveis dentro do aparelho de RMN. Na maioria dos casos, o técnico costuma deixar na mão do paciente uma espécie de controle que pode ser acionado caso você precise se comunicar durante o exame.
Para que serve?
A ressonância magnética é atualmente o exame de imagem que nos fornece as mais nítidas imagens do interior do corpo humano. Se fosse um exame barato e fácil de ser realizado, ele provavelmente seria a primeira escolha de exame de imagem na maioria dos casos. Porém, essa não é a atual realidade.
Apesar da RMN ser muito superior à radiografia convencional e à ultrassonografia, esses exames são muito mais baratos e simples de serem realizados. Uma radiografia simples basta para identificar uma pneumonia e uma ultrassonografia é mais do que suficiente na maioria dos casos para identificar pedras na vesícula ou nos rins. Portanto, a utilização da ressonância magnética acaba ficando restrita aos casos em que os outros exames de imagem não conseguem ser suficientemente bons.
Atualmente a ressonância magnética tem sido utilizada para todo o corpo, mas ela tem especial importância na Neurologia e na Ortopedia. A RMN costuma fornecer imagens com informações do cérebro, da coluna vertebral, de ligamentos e de articulações, que outros exames de imagem não são capazes. O estudo dos vasos sanguíneos também tem sido cada vez mais realizado com ressonância magnética, chamado neste caso de angiorressonância. Nos últimos anos, a avaliação do coração e seus vasos pela RMN também tem evoluído bastante.
É preciso usar contraste na ressonância magnética?
Nem todo exame de ressonância magnética precisa de contraste, especialmente aqueles feitos na área ortopédica. Na maioria dos casos, contudo, a administração de contraste, seja ele por via oral ou via intravenosa, melhora muito a qualidade das imagens fornecidas.
O contraste utilizado na RMN costuma ser à base de gadolínio, que é um metal raro. O gadolínio é um contraste com baixa frequência de efeitos colaterais, sendo rara a ocorrência de reações alérgicas. Como o contraste da RMN não contém iodo, ele é mais seguro que a maioria dos contrastes usados por via intravenosa.
O grande problema do gadolínio é que ele é extremamente tóxico para os pacientes com insuficiência renal avançada, principalmente para aqueles com taxa de filtração glomerular abaixo de 30 ml/min (leia: Insuficiência renal crônica). Neste grupo de pacientes, a administração de gadolínio pode provocar uma grave complicação chamada fibrose sistêmica nefrogênica.
Agentes Macrocíclicos
Os agentes de contraste macrocíclicos representam um avanço importante para a segurança dos pacientes com insuficiência renal crônica. Diferente dos agentes lineares, cuja estrutura molecular é mais aberta e menos estável, os macrocíclicos possuem uma estrutura química fechada que encapsula o íon de gadolínio, reduzindo a sua liberação no organismo.
Esses agentes macrocíclicos têm sido preferidos para pacientes com insuficiência renal devido ao menor risco de dissociação do gadolínio, o que implica em menor deposição do metal nos tecidos e um risco muito reduzido de FSN. Em função disso, as principais diretrizes, como as da Sociedade Europeia de Radiologia (ESR) e da FDA nos Estados Unidos, recomendam o uso de agentes macrocíclicos em qualquer situação em que seja necessário administrar contraste em pacientes com função renal comprometida.
Contraindicações
A imensa maioria das pessoas pode se submeter ao exame de ressonância magnética sem nenhum risco à sua saúde. Há algumas situações especiais, porém, que podem impedir a realização do exame. A situação mais comum é quando o paciente é portador de algum dispositivo metálico que possa sofrer influência do poderoso campo magnético gerado pelo aparelho de ressonância magnética.
Avise o seu médico e o técnico que irá realizar o exame se você for portador dos seguintes dispositivos:
- Marca-passo cardíaco (versões mais antigas).
- Desfibrilador cardíaco implantável (versões mais antigas).
- Implante coclear.
- Clipes vasculares metálicos.
- Prótese vascular.
- Stent vascular.
- DIU
- Próteses ortopédicas.
- Fragmentos de metais no corpo (como projéteis de arma de fogo).
- Tatuagens (antigamente as tintas possuíam traços de metais).
Nem todos os dispositivos listados acima contraindicam a realização da RMN. Por exemplo, stents ou próteses vasculares implantados há mais de 6 semanas costumam ser seguros. Também já existem marca-passos que podem ser usados na ressonância. Todavia, é sempre importante informar a equipe médica sobre qualquer dispositivo artificial presente no corpo, para que eles possam decidir com segurança quais situações são de risco e quais são seguras.
Próteses ortodônticas (aparelhos de dente) não costumam ser um problema, mas podem atrapalhar a qualidade da imagem gerada.
Para quem sabe inglês, esse site contém uma lista com milhares de dispositivos seguros e inseguros para o exame de ressonância magnética: http://www.mrisafety.com/List.html.
Novos marcapassos cardíacos e desfibriladores automáticos implantáveis.
Os marcapassos cardíacos e os desfibriladores automáticos implantáveis evoluíram significativamente nos últimos anos, e essa evolução trouxe grandes avanços no que diz respeito à sua compatibilidade com a ressonância magnética nuclear. Tradicionalmente, marcapassos e desfibriladores automáticos implantáveis eram considerados contraindicações absolutas para a realização de RM, devido ao risco de interferência do campo magnético no funcionamento desses dispositivos, potencialmente levando a disfunções graves, mau funcionamento, e até ao desligamento do dispositivo, colocando a vida do paciente em risco.
No entanto, atualmente existem dispositivos mais modernos, conhecidos como marcapassos e desfibriladores implantáveis compatíveis com RM. Esses dispositivos são projetados especificamente para permitir que pacientes submetidos à implantação possam realizar exames de ressonância magnética sob certas condições de segurança.
Ressonância magnética e gadolíneo durante a gravidez
A ressonância magnética nuclear é geralmente considerada segura para uso durante a gravidez, especialmente no segundo e terceiro trimestres, e é uma ferramenta importante para avaliar tanto a saúde da mãe quanto do feto em situações complexas. No entanto, durante o primeiro trimestre, o exame deve ser reservado para casos em que seja absolutamente necessário, dada a importância desse período para o desenvolvimento fetal.
O uso de agentes de contraste à base de gadolínio deve ser evitado, salvo em situações de extrema necessidade, com uma análise cuidadosa dos riscos e benefícios para a mãe e para o bebê. Portanto, se já soubermos que a paciente está grávida, por precaução, o contraste costuma ser evitado. Porém, se a paciente fizer o exame antes de saber que estava grávida e for exposta ao gadolínio, não há evidências de que isso possa causar qualquer mal ao bebê.
A decisão de realizar uma RMN durante a gravidez deve ser sempre feita por uma equipe multidisciplinar, com uma abordagem que priorize tanto a saúde da mãe quanto a segurança do feto.
A ressonância magnética é melhor que a tomografia computadorizada?
A ressonância magnética nuclear (RMN) e a tomografia computadorizada (TC) são exames com eficácia semelhante. Em algumas situações, a TC costuma ser a técnica preferida, enquanto em outras, a RMN é o exame que fornece mais informações. Por exemplo, a pesquisa de lesões ósseas, doenças do pulmão e o rastreio de tumores malignos são habitualmente feitos pela TC. Situações traumáticas, que exigem um diagnóstico mais rápido de lesões de órgãos internos, também são geralmente investigados pela tomografia, que é um exame que demanda menos tempo que a RMN para ficar pronto. Pelo mesmo motivo, pacientes com suspeita de hemorragia intracraniana também devem ser avaliados preferencialmente pela TC.
A ressonância magnética é o exame de escolha para investigação de lesões de ligamento e tendões, para problemas na coluna vertebral, para tumores do sistema nervoso central para a investigação de doenças neurológicas, como a esclerose múltipla.
As vantagens e desvantagens da TC e da RMN estão resumidas abaixo:
Vantagens da tomografia computadorizada:
- A TC é um exame realizado de forma muito mais rápida que a RMN, tornando-se o estudo de escolha em casos de trauma ou outras emergências neurológicas agudas.
- O custo de uma TC é consideravelmente menor do que a RMN.
- A TC é menos sensível ao movimento do paciente durante o exame, uma vez que a imagem pode ser obtida mais rapidamente.
- A TC pode ser mais fácil de realizar em pacientes claustrofóbicos.
- Os aparelhos de TC costumam aguentar melhor pacientes com obesidade mórbida.
- A TC pode ser realizada sem qualquer risco para o paciente com dispositivos médicos implantáveis, como marca-passos cardíacos ou clipes vasculares ferromagnéticos.
Vantagens da ressonância magnética nuclear:
- A RMN não utiliza radiação ionizante (raio-x), sendo, portanto, preferível à TC em crianças, grávidas e pacientes que necessitam de exames de imagem repetidamente.
- Até o momento não se identificou nenhum efeito colateral ou dano à saúde pela exposição ao campo magnético e às ondas de rádio gerados pela RMN.
- A RMN tem uma gama muito maior de contrastes disponíveis para tecidos moles, retrata a anatomia com mais detalhes e é mais sensível e específico para anormalidades dentro do cérebro.
- A RMN é capaz de gerar imagens em mais planos e pode reconstruir órgãos e regiões anatômicas em 3D.
- Os contrastes utilizados na RMN têm um risco consideravelmente menor de causar reação alérgica grave.
Referências
- MRI Safety – Radiological Society of North America.
- Manual on Contrast Media, Version 10.3 – American College of Radiology.
- Update on Gadolinium-Based Contrast Agent Safety, From the AJR Special Series on Contrast Media – AJR. American journal of roentgenology.
- Principles of magnetic resonance imaging – UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.