Otite média aguda: o que é, sintomas e tratamento

As infecções do ouvido recebem o nome de otite. A otite média é a infecção do ouvido médio, espaço cheio de ar atrás do tímpano que contém os pequenos ossos vibratórios do sistema auditivo.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Otite média

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Introdução

As infecções do ouvido recebem o nome de otite. A otite média é a infecção do ouvido médio, espaço cheio de ar atrás do tímpano que contém os pequenos ossos vibratórios do sistema auditivo.

As otites médias são habitualmente provocadas por bactérias ou vírus e atacam preferencialmente as crianças.

Se você está à procura de informações sobre a otite externa, infecção da porção mais externa do ouvido, seu artigo é este: Otite externa | Dor de ouvido

Nota: antes de seguirmos com o artigo, apenas como curiosidade, a nomenclatura mais correta não é ouvido externo e ouvido médio, mas sim orelha externa e orelha média. Antigamente, chamava-se de orelha o pavilhão auricular, que é a parte externa e visível do órgão auditivo; o ouvido era toda a parte interna. Desde 2001 os nomes mudaram e o termo ouvido já não é mais usado. Entretanto, como esse site é voltado para o público em geral, e para não haver confusão com a nomenclatura, manterei no texto os termos orelha e ouvido como eles são popularmente conhecidos.

Anatomia do ouvido

O ouvido externo (atualmente chamado de orelha externa) é a parte mais externa no aparelho auditivo, sendo composta pelo pavilhão auricular (popular orelha) e pelo canal auditivo. O ouvido externo é delimitado internamente pela membrana timpânica (tímpano).

O ouvido médio (atualmente chamado de orelha média) começa logo após o tímpano e é composto pelos ossículos auditivos e pela tuba de Eustáquio.

O ouvido interno (atualmente chamado de orelha interna) é a porção mais profunda, composta pela cóclea e pelo aparelho vestibular.

Otite média - anatomia do ouvido
Anatomia do ouvido

Funcionamento do ouvido médio

Quando qualquer som chega aos nossos ouvidos, ele precisa passar por algumas estruturas do sistema auditivos para que possa chegar ao cérebro e ser corretamente interpretado.

As vibrações das ondas sonoras são captadas pela membrana timpânica e transformadas em estímulos mecânicos pelos ossículos auditivos. Os ossículos transmitem estes estímulos para cóclea, que por sua vez entrega-os para o nervo auditivo, que o conduzirá até o cérebro. Lesões no tímpano ou nos ossículos podem levar à deficiência auditiva, pois interrompem a transmissão das ondas sonoras em direção ao nervo auditivo.

A tuba de Eustáquio é um canal que liga o ouvido médio à orofaringe. Sua principal função é escoar mucos e líquidos e regular a pressão do ar dentro do ouvido médio, impedindo lesões da membrana timpânica, caso a pressão no ouvido fique maior que a pressão atmosférica.

A tuba de Eustáquio encontra-se habitualmente fechada, mas podemos estimular sua abertura, seja mastigando ou abrindo a boca, simulando um bocejo. Quando a tuba se abre, as pressões do ambiente e do ouvido médio se equalizam (quem já voou de avião consegue entender bem a função deste mecanismo).

O que é otite média?

A otite média aguda é a inflamação e acúmulo de líquido no ouvido médio, habitualmente causados por infecções virais do trato respiratório, como resfriados ou gripe (leia: Diferenças entre gripe e resfriado).

Essas infecções podem causar um inchaço nas mucosas do nariz e da garganta, diminuindo as defesas naturais do organismo e a eliminação de bactérias a partir do nariz. As infecções virais do trato respiratório também podem prejudicar o funcionamento da tuba de Eustáquio, favorecendo o acúmulo de líquidos dentro do ouvido médio. A falta de drenagem de líquido favorece a colonização do mesmo por bactérias, levando à infecção e aumento da pressão do ouvido médio.

Nas crianças, a tuba de Eustáquio é anatomicamente diferente dos adultos, sendo menos angulada, o que dificulta a abertura e favorece seu entupimento em casos de infecção respiratória. Cerca de 60% das crianças têm ao menos um episódio de otite média durante o seu primeiro ano de vida. Esta taxa sobe para quase 90% até os três anos.

A otite média não é uma infecção contagiosa. Não é preciso isolar a criança.

Fatores de risco

O principal fator de risco é a idade, sendo as crianças pequenas as principais vítimas. O pico de incidência da otite média ocorre entre 6 e 18 meses de vida. Conforme a criança cresce, as otites vão se tornando mais infrequentes, apesar de haver novo pico de incidência entre os 4 e 5 anos de idade. Após o surgimento dos dentes definitivos a taxa de otite média cai drasticamente.

Adultos também podem ter otite média, mas é algo pouco comum.

Além da idade, outros fatores de risco para otite são:

  • Ausência de aleitamento materno.
  • Beber na mamadeira, principalmente na posição deitada.
  • Fumo passivo (pais que fumam perto da criança).
  • Frequentar creches e infantários.
  • História familiar de otite média.
  • Situação de carência econômica.
  • Inverno.
  • Infecções respiratórias de repetição.
  • Refluxo gastroesofágico.
  • Síndrome de Down.

Sintomas

Os principais sintomas da otite média aguda nas crianças são: febre, dor de ouvido e perda auditiva temporária. Estes sintomas habitualmente surgem de forma súbita.

Em lactentes e crianças pequenas, o diagnóstico pode ser mais difícil, pois os sintomas são menos típicos, podendo incluir irritabilidade, puxar a orelha frequentemente, apatia, falta de apetite, vômitos, diarreia ou conjuntivite (leia: Conjuntivite | Sintomas e Tratamento).

A perfuração do tímpano é uma das complicações mais comuns. O paciente sente um súbito alívio da dor e melhora da audição, associados a saída de secreção pelo ouvido (otorreia), que pode ser clara, purulenta ou sanguinolenta. A perfuração do tímpano e a otorreia podem permanecer durante semanas, levando à otite média crônica supurativa, ou simplesmente desaparecer espontaneamente após poucos dias.

Otite média com pus
Otite média com pus

Através da otoscopia (exame do ouvido) o médico pode avaliar o tímpano, conseguindo notar a presença de inflação do mesmo e líquido dentro do ouvido médio. O exame também permite comprovar perfurações na membrana timpânica.

A otoscopia não dói, mas é um exame difícil de ser feito em crianças, pois as mesmas não costumam aceitar a introdução do aparelho dentro do ouvido. Muitas vezes a criança fica tão arredia que o médico não consegue realizar o exame adequadamente.

Complicações

Uma perda auditiva leve e temporária é um sintoma comum das otites médias e costuma melhorar após a resolução do quadro. Todavia, otites crônicas ou não tratadas adequadamente podem causar perdas significativas e permanentes de audição, caso haja algum dano permanente ao tímpano ou a outras estruturas do ouvido médio.

Entre outras complicações da otite média aguda, podemos também citar:

  • Otite média crônica supurativa.
  • Labirintite.
  • Meningite.
  • Colesteatoma (crescimento de tecido no ouvido médio levando à destruição dos ossículos).
  • Paralisia facial.
  • Mastoidite.
  • Abscesso cerebral.

Tratamento

A maioria das otites médias não precisa ser tratada com antibióticos, pois boa parte se resolve espontaneamente em 1 ou 2 semanas.

O uso indiscriminado de antibióticos, além de desnecessário em muitos casos, pode levar à seleção de bactérias mais resistentes, o que pode dificultar o tratamento nos casos em que os antibióticos são realmente necessários. Muitos pacientes podem ser tratados apenas com anti-inflamatórios. Anti-histamínicos e descongestionantes nasais não estão indicados.

Se a criança estiver bem, sugere-se uma reavaliação médica em 72 horas para avaliar a necessidade de tratamento com antibióticos.

Habitualmente, só se indica o uso de antibiótico para tratar otite média se o quadro tiver pelo menos uma das seguintes características:

  • Paciente com idade inferior a 2 anos.
  • Otite bilateral.
  • Otorreia.
  • Sintomas intensos, como febre alta, dor e prostração.
  • Ausência de melhora em 72 horas.

Quando os antibióticos estão indicados, a amoxicilina costuma ser o medicamento de escolha. Outras opções são a amoxicilina + ácido clavulânico, cefuroxima ou ceftriaxona.

Nos pacientes alérgicos à penicilina e cefalosporinas, as opções são a claritromicina, azitromicina ou eritromicina (leia: Alergia à penicilina).

Vacinas

Atualmente, o calendário vacinal inclui vacinas contra algumas das principais bactérias e vírus causadoras das otites médias, tais como Haemophilus influenza, Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e vírus Influenza (gripe).

A administração dessas vacinas tem conseguido reduzir substancialmente a incidência de otites médias.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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