O que é o soro caseiro?
O soro caseiro é uma solução à base de água, sal e açúcar que pode ser feita em casa e serve para o tratamento e para a prevenção da desidratação nos pacientes com quadros de diarreia e/ou vômitos.
A desidratação provocada por quadros gastroenterite ainda é uma das principais causas de mortes, principalmente nos países mais pobres. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o mundo, ainda morrem cerca de 3 milhões de crianças por complicações causadas por quadros de diarreia.
Mas não são só as crianças que estão sob risco, a diarreia também causa complicações nos pacientes idosos, sendo essa uma das principais causas de internação hospitalar nessa faixa etária.
Neste artigo explicamos para que serve o soro caseiro, quando ele deve ser utilizado e como ele é preparado. Também explicaremos porque atualmente a OMS e os ministérios da Saúde de vários países do mundo indicam a utilização das soluções de reidratação oral em vez do soro caseiro.
Informações em vídeo
Antes de seguirmos com o artigo, assista a este vídeo de 3 minutos produzido pela equipe do MD.Saúde sobre como preparar o soro caseiro, que resume as informações mais importantes do texto. Ajude-nos a divulgar esse vídeo e a disseminar informações que podem salvar vidas.
Para que serve?
O soro caseiro foi durante muitos anos a solução mais indicada para o tratamento da desidratação provocada por quadros de diarreia aguda.
Mas se o objetivo é hidratar, por que soro caseiro e não apenas água?
Quando um paciente tem diarreia e/ou vômitos, ele desidrata porque perde um grande volume de água. Mas essa perda não é de água pura, junto com a água há perda de diversos eletrólitos (sais minerais), tais como potássio, sódio e bicarbonato. Portanto, a reposição ideal deve ser feita com água e eletrólitos para evitar que o paciente desenvolva alterações hidreletrolíticas graves, como a hiponatremia (baixa de sódio no sangue), hipocalemia (baixa de potássio no sangue) ou acidose metabólica (acidez no sangue).
Por isso, o soro caseiro, que contém cloreto de sódio (sal) e glicose (açúcar), é uma fórmula mais adequada que a água pura para repor as perdas causadas por quadros de diarreia.
Apesar da diarreia, a capacidade intestinal de absorver glicose e sais minerais, principalmente de sódio, costuma estar intacta nos pacientes. Portanto, mesmo que o paciente continue a ter episódios de diarreia, os componentes do soro caseiro continuam a ser absorvidos pelo intestino.
Cerca de 95% dos quadros de diarreia conseguem ser tratados apenas com hidratação por via oral. Apenas 5% dos pacientes precisam de internação hospitalar para administração de soro por via intravenosa.
Como fazer o soro caseiro?
O soro caseiro é uma solução que consiste em 3,5 gramas de sal mais 20 gramas de açúcar diluídos em 1 litro de água filtrada ou previamente fervida. Na prática, isso significa 1 colher de chá de sal mais 1 colher de sopa de açúcar.
O problema desta forma de preparação do soro caseiro é a frequência na qual a solução é preparada com quantidades erradas, seja de sal ou de açúcar. Ao usar colheres comuns de cozinha, a quantidade de sal e açúcar acaba variando muito, dependendo de quem preparará o soro.
Para evitar esses erros de preparação, existem colheres padrão recomendadas pela UNICEF, como exemplificado na imagem abaixo. Essa colher com as medidas corretas pode ser adquirida em farmácias populares ou postos de saúde. Neste caso, basta misturar 1 medida rasa de sal e duas medidas rasas de açúcar em 200 mL de água para o soro ficar com as concentrações mais próximas do recomendado pelo Ministério da Saúde e a OMS.
É importante estar atendo para a quantidade de água. Se você for usar as colheres comuns de cozinha, a quantidade de água é 1 litro. Se você tiver a colher padrão para preparar o soro, a quantidade de água é 200 mL.
A validade do soro caseiro é de 24 horas.
Como tomar
O soro deve ser tomado ao longo do dia em doses pequenas, mas frequentes, para evitar que uma rápida distensão do estômago estimule o reflexo do vômito. Existem várias formas de calcular o ritmo de administração do soro caseiro.
Sugerimos algumas opções:
- 150 a 300 mL por hora.
- Uma colher de sobremesa a cada 2 minutos, de forma a consumir um copo por hora.
- 10 mL por quilo de peso cada vez que o paciente tiver um episódio de diarreia.
- 2 mL por quilo de peso cada vez que o paciente tiver um episódio de vômito.
- Nas crianças, o recomendado é 50 mL por quilo de peso a cada 4 horas. Ex: uma criança de 10 quilos deve consumir 500 mL de soro no período de 4 horas.
Dependendo da gravidade da diarreia, esses valores podem ser adaptados. O objetivo é tentar ingerir, no mínimo, a mesma quantidade de líquido perdida na diarreia e nos vômitos. Nem sempre isso é facilmente estimável.
Portanto, a sensação de sede pode ser uma boa dica. O paciente deve se hidratar de forma a não ter sede, nem a boca seca.
Outra forma de controlar indiretamente o estado de hidratação é através da urina. Pacientes desidratados apresentam uma urina de cor mais concentrada, com odor mais forte e com pouco volume.
Se você tem múltiplos episódios de diarreia e notou que quase não tem urinado, a reposição de líquidos deve ser aumentada (leia: Urina com cheiro forte).
Por que as soluções de reidratação oral são melhores que o soro caseiro?
O soro caseiro é uma solução que possui apenas cloreto de sódio e glicose. Além disso, como ele é preparada em casa, são frequentes os erros de dosagem. Por isso, nos últimos anos, a OMS passou a indicar o uso das soluções de reidratação oral, que são pequenas saquetas que contém cloreto de sódio, glicose, potássio e citrato em pó em quantidades mais adequadas.
Além de ser uma formulação mais completa em termos de sais minerais, a solução de reidratação oral vem em embalagens com uma quantidade já determinada, bastando diluir o conteúdo das saquetas em 1 litro de água limpa (fervida ou filtrada). Desta forma, minimiza-se o risco de a solução conter quantidades erradas de sais minerais.
A solução de reidratação oral é fornecida gratuitamente nos postos de saúde e nas farmácias populares. Também há fórmulas comerciais que podem ser adquiridas nas farmácias, como o Rehidrat, Hidrafix ou Pedialyte.
Refrigerantes e sucos de fruta
Refrigerantes e sucos de fruta, principalmente os industrializados, são bebidas com alto teor de açúcar. O excesso de açúcar pode agravar a diarreia. Além disso, essas bebidas têm baixo teor de sódio, o que pode causar hiponatremia, se consumidos em grande quantidade.
Em casos de diarreia leve, sem sinais claros de desidratação, sucos naturais (sem adição de açúcar) e chás (que não tenham ação diurética) podem ser uma opção válida para hidratar o paciente.
Bebidas isotônicos ou esportivas, tais como o Gatorade, também não são o tipo de líquido mais adequado para reidratação em caso de diarreia mais intensa, mas podem ser usados em diarreias leves, nas quais o paciente encontra-se com bom estado geral.
E a água?
O paciente com diarreia pode manter a ingestão de água pura, principalmente nos casos mais leves. Porém, nos casos de diarreia mais intensa no qual o paciente apresenta sinais de desidratação (sede, boca seca, cansaço, câimbras, pressão baixa), a hidratação não deve ser feita somente com água, pois há risco de hiponatremia.
Referências
- Oral rehydration therapy – UpToDate.
- Oral rehydration salts – World Health Organization.
- Cholera – Rehydration Therapy – Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
- Pediatric Dehydration Treatment & Management – Medscape.
- The effect of oral rehydration solution and recommended home fluids on diarrhoea mortality – International journal of epidemiology.
- Evidence-Based Guidelines for the Management of Acute Gastroenteritis in Children in Europe – European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition/European Society for Pediatric Infectious Diseases.
- Diarreia e Desidratação – Ministério da Saúde do Brasil.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.