Viroses: tipos, sintomas, causas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

O que é uma virose?

Virose é um termo pouco específico, que significa doença viral ou infecção provocada por um vírus. Se formos interpretar a expressão virose ao pé da letra, estaremos diante de um gigantesco grupo de doenças que engloba centenas de infecções virais diferentes, desde as mais simples, como resfriados e verrugas de pele, até as mais graves, como AIDS, raiva, hepatite e ebola.

Apesar do termo virose abranger todas as infecções de origem viral, na prática, os médicos costumam reservar esse diagnóstico para as infecções virais leves, de origem respiratória ou gastrointestinal, que habitualmente são autolimitas e curam-se espontaneamente após alguns dias. Nenhum médico diz para o paciente que está com sarampo, ebola ou AIDS que ele tem “apenas uma virose”.

Neste artigo vamos explicar o que realmente é uma virose e quais são as infeções que costumam ser chamadas pelos médicos de “virose”.

Se você está à procura de uma revisão mais abrangente sobre as doenças causadas por vírus, acesse o seguinte artigo: QUAIS SÃO AS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS?

“É só uma virose”

Imagine a seguinte situação: dois pacientes aguardam consulta médica em um centro de pronto atendimento. O primeiro entra e relata ao médico que está sentindo cansaço, dor no corpo, dor de cabeça, tosse, espirros e nariz entupido. Ao fim da consulta, o médico diz que ele tem apenas um virose e que deve ir pra casa descansar e se hidratar bem. Chega a vez do segundo paciente, que relata ao médico estar com mal-estar, cansaço, cólicas, diarreia e vômitos. Novamente, o médico diz que ele tem apenas um virose e que deve ir pra casa descansar e se hidratar bem.

Como pode o médico dar o mesmo diagnóstico e indicar o mesmo tratamento para dois pacientes com sintomas tão diferentes?

Por mais que para o público leigo possa parecer que o médico está “chutando” o diagnóstico, existe uma grande chance do profissional ter acertado nas duas situações. A imensa maioria dos quadros respiratórios, com espirros e dores pelo corpo, e dos quadros gastrointestinais agudos, sem febre alta ou sangue nas fezes, são provocados por infecções virais de curta duração, como aquelas causadas pelos vírus Rinovírus, Parainfluenza, Influenza, Coronavírus, Rotavírus ou Norovírus.

Nestes casos, o importante para o médico não é fazer um diagnóstico preciso do vírus responsável pelo quadro clínico, mas sim ter certeza que o paciente não apresenta sinais e sintomas que possam indicar um outro problema, que não apenas uma simples virose. Entre esses sinais e sintomas estão a febre alta, pus nas amígdalas, sangue nas fezes, dor abdominal intensa, sinais de desidratação, hipotensão arterial, sintomas com mais de 1 semana de duração, etc.

Em alguns casos, quadros de infecções mais graves podem se apresentar nos primeiros dias de forma muito parecida com uma virose comum, só vindo a manifestar os sintomas mais claramente após 48-72 horas. Além disso, apesar de não ser o habitual, algumas viroses comuns podem causar complicações. A gripe é um exemplo bem claro. A imensa maioria dos pacientes com gripe recupera-se espontaneamente após alguns dias, mas cerca de 1% dos pacientes podem ter complicações sérias.

Algumas das complicações incomuns, mas possíveis das viroses são:

O correto, portanto, é o médico examinar o paciente à procura de sinais e sintomas de gravidade e explicar que as viroses comuns costumam melhorar espontaneamente após 3 ou 4 dias. Se o paciente, em vez de melhorar, notar um agravamento dos sintomas ao longo das próximas 48 horas, uma nova avaliação médica costuma ser necessária.

Sintomas

Tecnicamente, qualquer infecção provocada por um vírus pode ser chamado de virose, logo, existe uma vasta gama de sinais e sintomas possíveis. Entretanto, conforme já explicamos, na prática, o termo virose acaba ficando restrito aos tipos de infecção viral que são brandos e autolimitados.

Podemos dividir em três grandes grupos os principais quadros clínicos provocados por viroses: viroses respiratórias, viroses gastrointestinais e viroses exantematosas. Vamos falar um pouco sobre cada uma das três.

Viroses respiratórias

As viroses respiratórias são provocados pelo vírus da gripe, chamado vírus Influenza, ou pelos vários vírus que provocam o resfriado comum, entre eles: Rinovírus, Adenovirus, Vírus sincicial respiratório, Coronavirus, Parainfluenza.

Entre os sintomas mais comuns das viroses respiratórias podemos citar:

  • Febre.
  • Espirros.
  • Coriza.
  • Sinusite.
  • Tosse.
  • Conjuntivite.
  • Dor de cabeça.
  • Dor de garganta.
  • Dor no corpo.
  • Cansaço.
  • Mal-estar generalizado.

Cabe salientar que o paciente não precisa apresentar todos os sintomas listados acima para ter uma virose. Um paciente que apresente apenas coriza, espirros, dor de cabeça e cansaço já apresenta um quadro bastante rico para o diagnostico de virose respiratória.

Quando o médico se depara com uma virose respiratória, é importante que ele procure descartar infecções bacterianas que possam ter sintomas semelhantes, mas que precisam ser tratados com antibióticos, tais como a faringite bacteriana, a pneumonia e a sinusite bacteriana.

Quadros alérgicos, como a rinite alérgica, também podem cursar com alguns dos sintomas das viroses e o tratamento deve ser feito com medicamentos antialérgicos.

As viroses respiratórias duram de 2 a 7 dias e curam-se espontaneamente. Raramente há complicações.

Explicamos as diferenças entre gripe e o resfriado no seguinte artigo: DIFERENÇAS ENTRE GRIPE E RESFRIADO.

Viroses gastrointestinais

A maioria dos quadros de diarreia aguda costuma ser causada pelas viroses gastrointestinais, que incluem infecções pelos vírus rotavírus, Norovírus, Astrovírus e Adenovírus entérico.

As viroses gastrointestinais se caracterizam por um quadro de diarreia aguda que dura, em média, de 3 a 7 dias, e está frequentemente acompanhada por cólicas abdominais e vômitos, principalmente nos primeiros dias. Febre baixa, abaixo de 38,5ºC, também é um sintoma bastante comum.

Quando um médico se depara com um paciente com quadro sugestivo de virose gastrointestinal, ele precisa estar atento para alguns sinais e sintomas que possam indicar outra causa que não uma infecção viral simples. Entre os sinais de alerta estão:

  • Febre alta.
  • Intensa e persistente dor abdominal.
  • Diarreia sanguinolenta.
  • Sinais de desidratação grave.
  • Sintomas prolongados, geralmente por mais de 10 dias.
  • Perda de peso importante.

A maioria das viroses gastrointestinais resolve-se espontaneamente, sem necessidade de tratamento ou dietas muito rigorosas. A complicação mais comum é a desidratação, que pode ser evitada, caso o paciente consiga manter uma boa hidratação.

Explicamos as gastroenterites de origem viral com mais detalhes no seguinte artigo: VÔMITOS E DIARREIA – Virose Gastrointestinal.

Viroses exantemáticas

As viroses exantemáticas são um grupo de doenças de origem viral que cursam com o aparecimento de exantemas, que nada mais são do que erupções avermelhadas na pele. Entre as viroses exantemáticas mais conhecidas podemos citar a catapora (varicela), a rubéola e o sarampo.

A dengue, a febre Chicungunha e a febre Zika também são exemplos de viroses que podem cursar com exantemas, apesar das lesões de pele não serem os sinais mais importantes destas infecções.

Temos um artigo no qual explicamos as 10 principais causas de febre e manchas avermelhadas na pele: 10 Causas de Febre com Manchas Vermelhas na Pele.

Nem sempre, porém, as viroses que produzem exantemas apresentam um quadro clínico típico que nos permite enquadrá-las em um diagnóstico específico. Muitas vezes, o paciente recebe mesmo é o inespecífico diagnóstico de virose.

Algumas das viroses respiratórias e gastrointestinais citadas nos tópicos anteriores podem também causar machas avermelhadas na pele que não possuem características de nenhuma doença em especial. Não é incomum encontrarmos um paciente com um quadro de curta duração que consista em manchas avermelhadas na pele, febre, dores no corpo e alguns sintomas respiratórios.

Também não é incomum que os pacientes tenham formas brandas e atípicas de algumas viroses exantemáticas clássicas. Algumas pessoas só descobrem que tiveram catapora, dengue ou rubéola quando fazem exames de sangue, pois, na época da infecção, vários anos atrás, os sintomas foram tão inespecíficos, que muitas vezes nem atendimento médico o paciente procurou.

Portanto, se as lesões de pele não tiverem algumas características próprias, nem sempre é possível fazer o diagnóstico preciso de uma virose exantemática, principalmente se ela for de curta duração e com sintomas leves.

Diagnóstico

Umas das maiores frustrações do paciente que recebe o diagnóstico de virose é o fato do médico solicitar poucos ou nenhum exame e não estabelecer um diagnóstico mais preciso. Isso do ponto de vista médico, entretanto, não é um problema.

Se há um grupo de doenças que tenham sintomas semelhantes, sejam de curta duração e não necessitem de nenhum tratamento específico, não faz sentido gastar tempo e dinheiro do paciente para fazer um diagnóstico mais preciso, uma vez que isso em nada irá alterar a conduta do médico.

Mesmo que o paciente tenha um quadro de catapora ou dengue branda, com manifestações atípicas, saber ou não o diagnóstico correto não vai mudar em nada o tratamento. Da mesma forma, saber se o paciente tem um resfriado por adenovírus ou por Parainfluenza não traz nenhuma vantagem na maioria dos casos.

A solicitação de exames complementares pode ser indicada quando o médico não se sente seguro com o diagnóstico de virose. Análises de sangue, radiografia de tórax ou uma amostra de secreções da orofaringe podem ser solicitadas, caso o médico queira ter mais certeza que a infecção não tem origem bacteriana.

Outra situação em que o diagnóstico mais preciso pode ser interessante é nos períodos de epidemia de gripe. Do ponto de vista de saúde pública, saber se há ou não uma nova cepa do vírus Influenza pode ajudar no estabelecimento de estratégias de tratamento, prevenção e na formulação de vacinas para os anos seguintes.

Tratamento

A maioria dos quadros que chamamos de virose são autolimitados, ou seja, curam-se espontaneamente após alguns dias. Sendo assim, não há necessidade de nenhum tipo de tratamento específico. Isso não significa, porém, que o médico não possa prescrever alguns remédios visando o alívio dos sintomas do paciente, principalmente nos casos de febre e dor. Nos pacientes com vômitos e diarreia, o tratamento deve visar a adequada hidratação do paciente.

Uma medida importante para evitar a transmissão das viroses para outras pessoas e a lavagem frequente das mãos. A principal forma de transmissão dos vírus não é através do ar, mas sim através de mãos contaminadas (leia: A IMPORTÂNCIA DE LAVAR AS MÃOS).

Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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Comentários e perguntas

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8 respostas para “Viroses: tipos, sintomas, causas e tratamento”

  1. Jose Ferreira Nicoleti (Nicoleti )

    depois de pegar covid pela segunda vez

    fiquei com sequela ( Voz um pouco rouca )

    SOU UM CANTOR gOSPEL

    aS CORDAS VOCAIS tem dificuldade nos agudos

    a voz ficou rouca ( parece que inflamou a laringe

    Posso melhorar com medicamento

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Se a rouquidão já dura algumas semanas, o ideal é você ser avaliado por um otorrinolaringologista. É pouco provável que algum medicamento simples ajude.

  2. Leandro Augusto

    Tive virose a cerca de 10 dias, tive melhoras nos sintomas de enjoo e perda de apetite, mas ainda quando como percebo meu intestino fica irritado. isso é normal por um tempo? Detalhe quando melhorei eu abusei do que acabei comendo

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Se você andou consumindo muita gordura, fritura, leite ou álcool logo após ter melhorado, pode demorar mais a ficar completamente sem sintomas.

  3. Helton

    Resumindo, sem um estudo mais profundo, o médico não pode simplesmente dar um diagnóstico! Milhares de pessoas e até mesmo crianças voltam para casa medicada pelo SUS (dipirona ou paracetamol), e acabam entrando em óbito poucas horas depois!

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Se os sintomas são típicos e a historia epidemiológica for favorável, o médico pode sim dar diagnósticos sem solicitar exames mais elaborados. Exames complementares custam tempo e dinheiro. Se todos os médicos só conseguirem dar diagnósticos depois de estudos profundos, o sistema de saúde vai entrar em colapso. Se o médico for ruim, ele não vai nem saber qual é o exame completar melhor. Vai gastar recursos do paciente ou do Estado e vai errar o diagnóstico na mesma.

      1. Johnny

        questão de estatística! sem tantos exames certamente uma percentagem pequena vai morrer no dia seguinte. Mas não há dúvida que com todos os exames sendo elaborados, muitas pessoas morreriam. Diante situacao politico economica do País, temos que torcer para ter saúde, porque as vezes podemos nem encontrar o médico ou os instrumentos e máquinas necessárias, seja na publica ou até na particular.

        1. Johnny

          a proposito, parabens pelo artigo explicativo.