Gastroenterite viral: como se pega, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Vômitos - gastroenterite viral

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O que é uma gastroenterite viral?

Gastroenterite é um termo que significa inflamação do estômago e dos intestinos.

A gastroenterite pode ser causada por vários fatores, tais como infecções por parasitas e bactérias, remédios, álcool, ou doenças, como intolerância à lactose, doença de Crohn ou doença celíaca. A gastroenterite viral é qualquer infecção do trato gastrointestinal provocada por um vírus.

A gastroenterite viral é uma infecção extremamente comum, perdendo em incidência apenas para as infecções respiratórias.

Quando a inflamação da gastroenterite é predominantemente do estômago, náuseas e vômitos são os sintomas são proeminentes. Quando são os intestinos os mais acometidos, cólicas abdominais e diarreia dominam o quadro. Porém, não é incomum o paciente apresentar um quadro com inflamação extensa, sofrendo com vômitos e diarreia ao mesmo tempo.

O quadro de vômitos é causado por inflamação e irritação da parede do estômago, que passa a tolerar mal a presença de alimentos.

Já o quadro de diarreia ocorre porque o vírus ataca as células da mucosa do intestino, principalmente do jejuno e do íleo, que correspondem aos 2/3 finais do intestino delgado.

A inflamação resultante deste ataque destrói as vilosidades do intestino, que são as estruturas responsáveis pela absorção dos nutrientes digeridos. Além de impedir a absorção de nutrientes, alguns vírus, como o rotavírus, estimulam a secreção de água pelas células intestinais, provocando uma diarreia aquosa e profusa, fazendo com que o paciente evacue mais de 15 vezes por dia.

Nesse texto falamos apenas sobre as diarreias de origem viral. Se você deseja mais informações sobre diarreia em geral, leia: Diarreia – Causas e tratamento.

Para mais informações sobre outras formas de virose, leia: Viroses – Sintomas, Causas e Tratamento.

Causas

A virose gastrointestinal pode ser provocada por vários vírus diferentes e acomete pessoas de todas as idades, sexo, etnia e condição econômica.

Estima-se que, em todo o mundo, as gastroenterites de origem viral sejam responsáveis por mais de 5 bilhões de episódios de diarreia a cada ano.

Enquanto o número de casos de gastroenterites de origem bacteriana e parasitária está em queda, devido a gradual melhoria das condições de saúde pública e infraestrutura, como rede de esgoto, saneamento básico, maior disponibilidade de água potável e maior educação da população, os casos de viroses gastrointestinais mantêm-se mais ou menos estáveis, com um ritmo de redução bem mais lento.

Os vírus que mais causam quadros de gastroenterite são:

  • Rotavírus.
  • Norovírus (antigamente chamado de vírus Norwalk).
  • Adenovírus.
  • Sapovírus.
  • Astrovírus.

Nos adultos, o Norovírus é a principal causa de diarreia aguda, sendo responsável pela maioria das epidemias de gastroenterite viral.

Na população pediátrica, principalmente nas crianças até 2 anos, o rotavírus é a principal causa de gastroenterite. Adultos também podem ter diarreia por rotavírus, mas ela é menos comum e o quadro clínico costuma ser bem mais brando.

A incidência das diarreias por rotavírus em crianças tem caído bastante desde a introdução da vacina contra esse vírus. As formas de gastroenterite grave por rotavírus caíram mais 95% na população vacinada.

Transmissão

As viroses gastrointestinais são chamadas em inglês de “stomach flu”, que numa tradução livre pode ser chamado de “gripe estomacal”. Apesar do vírus da gripe não provocar gastroenterite, a analogia é feita devido às semelhanças entre as formas de transmissão e a facilidade de contágio desses vírus.

Na maioria dos casos, a transmissão é feita pelo contato próximo, principalmente por mãos contaminadas pelo vírus. Fezes e vômitos dos pacientes contaminados possuem elevadas cargas de vírus.

Se uma higiene adequada das mãos não for feita após cada evacuação, o paciente pode contaminar roupas e objetos, facilitando a dispersão do vírus. Pais que não lavam as mãos adequadamente após cada troca de fraldas do filho também podem espalhar o vírus para o resto da família (leia: Por que é importante lavar as mãos para evitar doenças?)

Alimentos preparados por pessoas doentes (principalmente se crus ou mal cozidos) ou águas contaminadas com fezes também são vias comuns de transmissão.

A transmissão através do ar também é possível, principalmente através de gotículas de saliva durante a fala, tosse ou espirros.

Também há suspeitas de que o vírus possa ser transmitido pelo ar através dos vômitos. Por isso, sugere-se que a limpeza dos vômitos seja feita não somente com luvas, mas também com máscaras.

Sintomas

As viroses gastrointestinais causadas pelo Norovírus, Sapovírus ou Astrovírus podem provocar desde uma doença leve, com febre baixa e diarreia leve, até um quadro bem grave, com febre alta e dezenas de episódios de vômitos e diarreias ao longo do dia.

A presença de vômitos é mais comum nas infecções causadas pelo Norovírus e pelo Sapovírus. Já o Rotavírus só costuma causar diarreia importante nas crianças ou nos adultos com imunidade deficiente.

Diarreia pelo Norovírus

A gastroenterite pelo Norovírus costuma provocar sintomas 1 a 3 dias após a contaminação. O quadro é de início abrupto, com vômitos e/ou diarreia.

A diarreia costuma ser moderada, com 4 a 8 evacuações por dia. As fezes são bem líquidas e não há presença de sangue, pus ou muco.

Também são comuns dor muscular, mal-estar, dor de cabeça, cólicas, dispepsia e febre ao redor de 38-39ºC.

Em adultos saudáveis, essa forma de gastroenterite provoca desconforto, mas não costuma causar graves consequências. Habitualmente, em dois ou três dias o paciente se recupera do quadro sem maiores problemas.

Manifestações mais graves da doença podem ocorrer em crianças pequenas, idosos ou pacientes debilitados, com outros problemas de saúde.

Diarreia pelo Rotavírus

A gastroenterite pelo Rotavírus é habitualmente branda em adultos, mas pode ser bem grave nas crianças muito pequenas. Algumas crianças podem ter mais de 20 episódios de vômitos e/ou diarreia por dia, levando a quadros de desidratação grave.

A diarreia pelo rotavírus é bem aquosa e também não contém sangue, pus ou muco. O quadro surge habitualmente 48 horas depois da contaminação e o paciente fica por até 10 dias eliminando o vírus nas fezes. Os sintomas duram de 12 a 60 horas.

A maioria das crianças não vacinadas acaba contraindo o Rotavírus até o 3 anos de idade, devido ao intenso e próximo contato entre as mesmas em creches e infantários.

A primeira infecção costuma ser a mais severa. Depois, como o organismo desenvolve anticorpos, as reinfecções ao longo da vida costumam ser bem mais brandas. Por isso, as infecções por rotavírus em adultos costumam ser leves.

Nos pacientes devidamente vacinados, 60% ficam totalmente imunes ao vírus e mais de 95% ficam imunes às formas graves da gastroenterite.

Diagnóstico

Na maioria dos casos, o diagnóstico é feito somente com base no exame médico. Até existem testes para Rotavírus e Norovírus nas fezes, mas eles são desnecessários na maioria das vezes, já que o tratamento das diarreias aquosas, sem sinais de sangue ou pus, é basicamente o mesmo, seja ela de origem viral ou não.

O exame das fezes pode ser útil, se o médico tiver dúvidas entre a gastroenterite viral ou bacteriana. Geralmente, os sintomas são diferentes, mas em alguns casos a distinção pode não ser tão simples.

Tratamento

Não existe um remédio específico para curar viroses gastrointestinais. E nem é preciso, pois na maioria dos casos a doença é autolimitada e de curta duração.

O principal objetivo do tratamento é impedir que o paciente desidrate por conta das grandes perdas de água nas fezes e nos vômitos. A hidratação adequada é muito importante, principalmente nas crianças pequenas. Em casos graves, a internação hospitalar para administração de soro intravenoso pode ser necessária.

Já existem soluções prontas para a hidratação por via oral à venda nas farmácias, como o Pedialyte®. Nas farmácias populares este soro é distribuído gratuitamente. Esta forma de hidratação é mais eficiente do que água pura ou soro caseiro feito em casa.

É preciso tomar antibiótico para gastroenterite viral?

Não. Antibióticos não devem ser usados, pois eles só funcionam para diarreias provocadas por bactérias.

Remédios para parar a diarreia, como a loperamida (Imosec®), também não devem ser usados em diarreias agudas e de origem infecciosa, pois podem piorar o quadro e causar efeitos colaterais importantes.

Probióticos, como lactobacillus (Floratil® – Saccharomyces boulardii), podem ser úteis, ajudando a reduzir o tempo de doença em alguns casos. Mas não espere efeitos milagrosos, como resolução da diarreia após algumas horas.

Dieta para gastroenterite viral

Não é preciso interromper a alimentação durante o quadro de gastroenterite. Evite apenas alimentos muito gordurosos ou que piorem o seu enjoo. Não é precioso fazer nenhuma dieta muito restritiva. Dê preferência a alimentos ricos em água, como frutas, sopas, iogurtes, etc. A maioria dos pacientes não apresenta problemas com a ingestão de lacticínios.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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