Calores da Menopausa (Fogacho)

As ondas de calor da menopausa, chamadas de fogachos ou afrontamentos, acometem 3/4 das mulheres no período pós-menopausa (climatério). Os seus sintomas costumam ser uma sensação de calor, transpiração e ruborização da pele, principalmente na face.
Dr. Pedro Pinheiro
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Fogacho

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O que é fogacho?

As ondas de calor da menopausa, chamadas de fogachos ou afrontamentos, acometem 3/4 das mulheres no período pós-menopausa. Os seus sintomas costumam ser uma sensação de calor, transpiração e ruborização da pele, principalmente na face.

Antes de falarmos nos fogachos, proponho esclarecermos dois conceitos. Há muita confusão, principalmente entre o público leigo, com os termos menopausa e climatério.

  • Menopausa é a última menstruação da vida da mulher. É um evento pontual.
  • Climatério é o período que se inicia quando a mulher entra na transição da fase reprodutiva para não reprodutiva. Engloba os anos logo antes da cessação da menstruação e todo o período após. Existe o climatério pré-menopausa e pós-menopausa.

Portanto, apesar de ser muito comum ouvirmos dizer que uma mulher está na menopausa, o mais correto seria dizer que ela teve a menopausa e está no climatério pós-menopausa.

Ao longo do texto empregarei o termo “ondas de calor da menopausa” em vez de “ondas de calor do climatério” por ser a primeira uma expressão mais consagrada, apesar de não ser a mais correta tecnicamente.

Neste texto falaremos especificamente sobre o fogacho. Para saber mais sobre outros sintomas da menopausa, leia:

Sintomas

As ondas de calor da menopausa surgem por uma desregulação no nosso mecanismo de controle térmico, aparentemente causada por diminuições dos níveis circulantes de estrogênio.

O fogacho costuma começar como uma sensação súbita de calor localizada na face e na parte superior do tórax, tornando-se rapidamente generalizada. Essa onda de calor ocorre por uma má interpretação da temperatura corporal real pelo hipotálamo, região do sistema nervoso central que age como termostato. A paciente sente-se muito quente, mas sua temperatura mantém-se normal, ao redor dos 36,5ºC.

A sensação de calor dura entre dois e quatro minutos e está frequentemente associada a intensa transpiração e vermelhidão da pele. Como o organismo pensa que o corpo está muito quente, ocorre uma inapropriada dilatação dos vasos da pele, levando à vermelhidão e à transpiração.

Com a vasodilatação, sudorese e consequente perda de calor, há uma rápida queda da temperatura corporal, causando uma leve hipotermia. Nesse momento, o fogacho começa a se dissipar e surgem os calafrios, um mecanismo usado pelo corpo para gerar calor, numa tentativa de restaurar a temperatura habitual do organismo.

Em algumas mulheres as ondas de calor surgem várias vezes por dia, podendo também aparecer enquanto dormem. Os calores noturnos atrapalham o sono e podem levar à insônia. Se a paciente também tiver problemas como ansiedade ou depressão, comuns na idade da menopausa, podem surgir distúrbios importantes do sono.

O fogacho acomete até 3/4 das mulheres e costuma surgir quando a menopausa se aproxima. Em 80% dos casos as ondas de calor da menopausa duram por mais de um ano. Na maioria das vezes, o fogacho dura por dois ou três anos. Entretanto, 25% das mulheres sofrem com calores por mais de cinco anos e cerca de 10% mantém os sintomas até depois dos 70 anos.

Mulheres com sobrepeso, fumantes ou sedentárias apresentam maior risco de desenvolver fogachos. Não se sabe o porquê, mas afrodescendentes têm mais fogachos que mulheres de origem europeia, que por sua vez têm mais fogachos que mulheres asiáticas.

Tratamento

É sempre bom lembrar que o fogacho costuma desaparecer espontaneamente após alguns anos. Como muitas mulheres têm sintomas brandos, não se indica tratamento a não ser que os calores sejam realmente incômodos.

Medicamentos para o fogacho

O tratamento mais efetivo para as ondas de calor da menopausa é a reposição de estrogênio, porém, atualmente, devido aos efeitos colaterais, seu uso só está indicado por curtos períodos (dois ou três anos) e em mulheres com sintomas de moderada a forte intensidade.

O estrogênio pode ser administrado por via oral ou transdérmica. Nas mulheres que não retiraram o útero, o estrogênio de deve ser administrado junto com a progesterona para evitar proliferação da mucosa uterina, um efeito que aumenta o risco de câncer do endométrio (câncer do útero).

Pacientes com história de doença cardiovascular, trombose ou câncer de mama (leia: Câncer de mama – Sintomas, auto exame e diagnóstico) não devem ser tratadas com estrogênios.

Outras opções de tratamentos incluem alguns antidepressivos (melhores: venlafaxina, desvenlafaxina, paroxetina, citalopram e escitalopram; piores: sertralina e fluoxetina), gabapentina ou clonidina (medicamento usado no tratamento da hipertensão).

Fezolinetant 

Os antagonistas do receptor de neuroquinina 3 (NK3) representam uma classe promissora de medicamentos que estão sendo estudados para o tratamento de fogachos, especialmente aqueles associados à menopausa.

Esses medicamentos funcionam ao bloquear a ação da neuroquinina B (NKB), um neuropeptídeo que desempenha um papel central na modulação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, que é crucial para a regulação hormonal.

O primeiro antagonista de NK3R a ser aprovado e disponível para uso clínico é o fezolinetant (ainda não está disponível no Brasil nem em Portugal). Em um estudo com mais de 500 mulheres na pós-menopausa com ondas de calor moderadas a graves, o fezolinetant 30 mg/dia ou 45 mg/dia reduziu significativamente a frequência e a gravidade das ondas de calor em comparação com o placebo. As mulheres que receberam fezolinetant de 45 mg também apresentaram melhorias significativas nos distúrbios do sono em comparação com o placebo.

Tratamentos naturais para o fogacho

Algumas terapias não medicamentosas também ajudam. Perder peso e parar de fumar é imperativo. Evitar bebidas alcoólicas, comidas apimentadas e cafeína também funciona para algumas mulheres (ver próximo tópico).

O calor piora os fogachos, por isso, no verão, procure ficar em ambientes ventilados ou com ar-condicionado. Use roupas leves e beba bastaste líquidos gelados.

A prática regular de atividades físicas e técnicas de relaxamento também são efetivas.

O uso de isoflavonas ou fitoestrogênios (estrogênios das plantas) não apresenta nenhuma comprovação científica. Pelo contrário, os trabalhos indicam que os mesmos possuem apenas efeito placebo e podem ser prejudiciais em mulheres com histórico de câncer de mama.

Também não há evidências fortes de que a acupuntura tenha efeito no alívio dos calores da menopausa.

Quais alimentos pioram os fogachos?

Certos alimentos e bebidas podem exacerbar os calores da menopausa em algumas pacientes. Aqui estão alguns dos mais comuns:

  • Cafeína: presente no café, vários tipos de chás, refrigerantes e chocolates, a cafeína pode desencadear ou intensificar os fogachos em algumas mulheres.
  • Alimentos picantes: comidas picantes podem aumentar a temperatura corporal, o que pode levar a um fogacho. Reduzir o consumo de alimentos como pimentas e molhos picantes pode ajudar a diminuir os episódios.
  • Álcool: o consumo de álcool pode dilatar os vasos sanguíneos e aumentar a sensação de calor no corpo. Limitar ou evitar bebidas alcoólicas pode reduzir a frequência e a intensidade dos fogachos.
  • Alimentos gordurosos e fritos: podem influenciar negativamente a regulação hormonal e térmica do corpo, potencialmente piorando os sintomas de fogachos.
  • Comidas processadas e açúcares refinados: alimentos altamente processados e com alto teor de açúcar podem afetar os níveis de açúcar no sangue e insulina, o que pode, indiretamente, afetar os fogachos.
  • Alimentos muito quentes: consumir alimentos ou bebidas muito quentes pode desencadear temporariamente fogachos devido ao aumento da temperatura corporal interna.

É importante destacar que a relação dos alimentos com o fogacho não é linear e cada pessoa pode reagir de forma diferente a esses gatilhos. Para quem sofre de fogachos, pode ser útil manter um diário alimentar para identificar e evitar alimentos que desencadeiam ou exacerbam os sintomas. O que funciona para uma mulher pode não funcionar para outra e vice-versa.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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