Doença de Alzheimer: O que é, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Alzheimer

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Introdução

O mal de Alzheimer, também conhecido como doença de Alzheimer, é uma doença degenerativa e progressiva que provoca atrofia do cérebro, levando à demência em pacientes idosos.

Sabemos que o mal de Alzheimer ataca preferencialmente os pacientes idosos, acima dos 65 anos, porém, suas causas ainda não foram elucidadas. Atualmente, admite-se que haja uma associação entre propensão genética e exposição a fatores ambientais ainda não reconhecidos.

Neste artigo abordaremos exclusivamente o mal de Alzheimer. Para informações gerais sobre as demências, leia: Demência – Causas, sintomas e tratamento.

O que é a doença de Alzheimer?

O mal de Alzheimer é uma doença de lenta e progressiva evolução, que destrói as funções mentais importantes, levando o paciente à demência, um termo usado para indicar que o indivíduo perdeu suas capacidades de raciocínio, julgamento e memória, tornado-o dependente de apoio nas suas atividades diárias. O mal de Alzheimer é a causa mais comum de demência, sendo responsável por mais de 60% dos casos.

Na doença de Alzheimer, os neurônios e suas conexões se degeneram e morrem, causando atrofia cerebral e declínio global na função mental.

Apesar de já termos reconhecido diversos fatores de risco, a exata causa do mal de Alzheimer ainda é um mistério. Acredita-se que o acúmulo nos neurônios de uma proteína chamada beta-amiloide e de outra chamada tau seja o fator responsável pelo desencadeamento da doença. O porquê destas substâncias se acumularem em umas pessoas e não em outras ainda precisa ser elucidado.

Comparação de um cérebro de um paciente com Alzheimer e um paciente sem Alzheimer
Cérebro do Alzheimer x cérebro normal

Como não há cura para a doença de Alzheimer, o diagnóstico precoce é importante para se tentar preservar ao máximo as capacidades intelectuais e prolongar a qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores.

Fatores de risco

O maior fator de risco para o mal de Alzheimer é a idade avançada. Após os 65 anos, a chance de se desenvolver Alzheimer dobra a cada cinco anos, fazendo com que 40% das pessoas acima de 85 anos tenham a doença. Raramente, o mal de Alzheimer surge antes dos 60 anos de idade.

Curiosamente, os pacientes que chegaram aos 90 anos sem sinais da doença apresentam baixo risco de desenvolvê-la posteriormente.

Além da idade, outro fator de risco importante é a história familiar. Pessoas com familiares de primeiro grau com Alzheimer apresentam maior risco de também tê-lo, evidenciando um papel importante da carga genética.

O mal de Alzheimer é duas vezes mais comum em negros do que em brancos; também é mais comum em mulheres do que em homens.

Alguns outros fatores também parecem aumentar os riscos de desenvolvimento do Alzheimer, entre eles:

De forma oposta, alguns fatores relacionados à estimulação do cérebro parecem reduzir o risco do desenvolvimento do Alzheimer, tais como:

  • Grau de escolaridade elevado.
  • Trabalhos que são intelectualmente estimulantes.
  • Leitura frequente.
  • Tocar instrumentos musicais.
  • Interação social frequente.

Sintomas

Como a doença de Alzheimer é a principal causa de demência no mundo, e a demência é a principal característica clínica da doença de Alzheimer, vale a pena gastarmos algumas linhas explicando o conceito de demência.

A demência é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas relacionados à deterioração das capacidades intelectuais do paciente. Além da doença de Alzheimer, é também comum a ocorrência de demência em pacientes com múltiplos AVC, doença de Parkinson, alcoolismo crônico, traumas cranianos, deficiência de vitaminas, hipotireoidismo grave, tumor cerebral e algumas outras doenças neurológicas.

Falamos da demência de origem vascular no artigo: Demência vascular: o que é, sintomas, causas e tratamentos.

A síndrome demencial apresenta três características básicas:

  • Alterações da memória.
  • Alterações da capacidade intelectual, incluindo dificuldades com raciocínio lógico, linguagem, escrita, organização do pensamento, interpretações dos estímulos visuais, planejar e realizar tarefas complexas, etc.
  • Alterações de comportamento, como perda da inibição, agitação e alucinações, etc.

A demência é uma síndrome de instalação lenta e progressiva, que muitas vezes passa despercebida em estágios iniciais. É comum o paciente idoso com demência em fases precoces ter suas alterações tratadas como “coisas normais da idade”.

É importante salientar que pequenos esquecimentos são comuns e ocorrem com todas as pessoas, principalmente em períodos de maior estresse ou cansaço.

Todavia, quando os lapsos de memória começam a ocorrer com frequência e são importantes, como esquecer o próprio endereço, sair de casa e perder-se, esquecer nomes de pessoas familiares, etc., devemos acender um sinal de alerta.

Se junto com a perda frequente e progressiva de memória para fatos recentes, o idoso também apresentar alterações do comportamento social, como apatia e tendência a isolar-se, além de períodos de confusão, como guardar sal na geladeira ou as chaves de casa no armário dos alimentos, a demência deve ser uma hipótese a ser considerada.

O esquecimento da demência é diferente do esquecimento comum do dia a dia. Uma pessoa pode esquecer de uma reunião agendada, mas quando alguém a avisa, ela lembra-se de tê-la marcado. O paciente com Alzheimer esquece a reunião e nem sequer lembra-se de tê-la alguma vez marcada, mesmo que a veja escrita com sua letra em uma agenda.

Nas fases iniciais da doença de Alzheimer, o próprio paciente não consegue reconhecer estes déficits neurológicos, arranjando sempre uma desculpa para justificar estas falhas. Como o paciente não se dá conta da doença, muitas vezes os familiares também demoram a valorizar as alterações. Conforme a demência avança, a família começa a notar que os sinais e sintomas começam a ficar muito evidentes e já não mais se encaixam no que as pessoas consideram natural para idade.

Os pacientes com doença de Alzheimer em fases mais avançadas podem apresentar apatia, depressão ou agressividade, lê coisas e não consegue interpretá-las, é incapaz de fazer cálculos, não consegue nomear objetos e não reconhece pessoas familiares.

Com o tempo, tornam-se incapazes de realizar tarefas básicas, como se vestir e tomar banho. O paciente costuma também ficar desorientado no tempo e no espaço, não sabendo indicar a data atual nem identificar geograficamente onde se encontra.

Perda das inibições é outro sintoma comum do Alzheimer. O paciente pode mostrar sua genitália em público, acusar pessoas de roubarem seus objetos, falar palavrões ou obscenidades indiscriminadamente, ou insultar os outros sem motivo aparente.

Incontinência urinária ou fecal também podem surgir em fases avançadas.

Explicamos os sintomas da doença de Alzheimer com mais detalhes no seguinte artigo: 10 Síntomas típicos da Doença de Alzheimer.

Como evolui a doença

A doença de Alzheimer é uma doença que inexoravelmente progride. Existem casos de Alzheimer por mais de duas décadas e casos de pacientes com rápida evolução em apenas dois ou três anos.

Muitas vezes é difícil estabelecer retrospectivamente uma data para o início dos sintomas, o que atrapalha na hora de se avaliar o tempo de progressão da doença. Sabe-se, entretanto, que uma vez estabelecido o diagnóstico do mal de Alzheimer, a expectativa de vida do paciente costuma ser ao redor de três a oito anos.

O que leva o paciente ao óbito não é a doença em si, mas sim suas complicações, como acidentes e quedas com traumatismos cranianos, dificuldade em engolir, que o ocasiona broncoaspiração e desnutrição, e restrição ao leito, que favorece o surgimento de infecções e escaras (úlceras de pressão). A pneumonia e a infecção urinária costumam ser os principais tipos de infecção do paciente com Alzheimer.

Quanto maior forem os cuidados fornecidos pela família, muitas vezes com auxílio de enfermagem e fisioterapia, maior costuma ser a qualidade e o tempo de sobrevida destes pacientes.

Diagnóstico

O diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer é feito com biópsia do tecido cerebral, o que, por razões óbvias, é raramente realizado na prática clínica.

Em mais de 90% dos casos, o diagnóstico é baseado em dados clínicos; análises de sangue e exames de imagens ajudam a descartar outras causas de demência, mas não estabelecem o diagnóstico de doença de Alzheimer. Da mesma forma, exames de imagem, como a ressonância magnética ou a tomografia computadorizada do crânio também não ajudam a fechar o diagnóstico.

Existem testes simples para documentar e acompanhar alterações da capacidade mental dos pacientes. O mais famoso e usado é o mini-mental, que é um questionário de 30 questões agrupadas em 10 seções, na qual as seguintes características são avaliadas:

  • Orientação espaço-temporal (capacidade de reconhecer onde está e em que data estamos).
  • Capacidade de atenção, concentração e memória.
  • Capacidade de abstração e realização de cálculos simples.
  • Linguagem e percepção visual-espacial.
  • Capacidade de seguir instruções básicas.

São critérios para o diagnóstico clínico do mal de Alzheimer:

  • Demência atestada pelo exame clínico e por testes padronizados, como o mini-mental.
  • Déficit em duas ou mais áreas cognitivas (memória, linguagem, raciocínio, concentração, juízo, pensamento, etc.).
  • Piora progressiva dos déficits cognitivos.
  • Início após 40 anos e antes dos 90 anos.
  • Ausência de outra doença neurológico ou sistêmica que cause déficits cognitivos.

Os critérios acima conseguem identificar corretamente a doença de Alzheimer em até 90% dos casos.

Biomarcadores para doença de Alzheimer

Recentemente foram descobertos alguns biomarcadores que indicam o acúmulo de proteína beta-amiloide e da proteína tau no sistema nervoso dos pacientes com Alzheimer. Esses marcadores podem ser identificados através do exame do líquido cefalorraquidiano ou por um exame de imagem chamado PET (Tomografia por Emissão de Positrões).

Os biomarcadores ainda estão em fase em estudo e sozinhos não servem para estabelecer o diagnóstico. A sua presença em pacientes com quadro clínico sugestivo de Alzheimer, porém, é mais um fator que fala a favor do diagnóstico.

Tratamento

Cuidados básicos

Uma questão importante para familiares ou cuidadores de pacientes com Alzheimer é mantê-lo afastado de atos e situações inseguras. Como muitas pessoas com demência não percebem que o seu funcionamento mental está afetado, eles tentam manter suas rotinas diárias. Situações triviais para a maioria de nós pode ser muito perigosas para pacientes com mal de Alzheimer, como, por exemplo, dirigir automóveis, cozinhar, andar sozinho pela rua ou ir à praia sozinho.

As quedas são muito comuns, por isso a casa deve ser preparada de forma a não criar “armadilhas” para o paciente, como fios pelo chão, irregularidades no piso, piso escorregadio, excesso de móveis pelo caminho, etc.

Cigarro e álcool devem ser evitados. Atividades físicas supervisionadas devem ser encorajadas.

Remédios para o mal de Alzheimer

Embora o conhecimento sobre a doença de Alzheimer esteja evoluindo rapidamente, não há atualmente nenhuma cura para o mal. Há, todavia, algumas medicações que podem ajudar a amenizar alguns dos sintomas da doença de Alzheimer.

Medicamentos como a Donepezila, Rivastigmina e a Galantamina são chamados fármacos inibidores da colinesterase e funcionam ao aumentar os níveis de um neurotransmissor chamado acetilcolina, que ajuda na comunicação entre os neurônios. Infelizmente, nem todos os pacientes apresentam alguma melhora com estes medicamentos.

A memantina é um medicamento diferente dos inibidores da colinesterase. Esta droga e mais eficaz e pode proteger o cérebro dos danos causados pelo Alzheimer, retardando a progressão dos sintomas da doença. É, por vezes, usada em combinação com um inibidor da colinesterase para otimizar os seus efeitos.

É importante ter expectativas realistas sobre os potenciais benefícios destes medicamentos. Nenhum desses remédios cura a doença de Alzheimer ou impede definitivamente o seu avanço. Quando os medicamentos funcionam, o seu grande mérito é conseguir atrasar o curso da doença, prolongando a qualidade de vida e as capacidades cognitivas do paciente. Porém, cedo ou tarde, a doença irá causar demência grave ao paciente.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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