Botox: uso cosmético e terapêutico

O Botox® é uma toxina utilizada para suavizar rugas e linhas de expressão, bloqueando temporariamente a contração muscular. Além de fins estéticos, também é usado no tratamento de condições médicas, como enxaquecas e espasmos musculares.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Botox

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O que é o Botox?

O Botox® é a marca comercial e farmacêutica mais famosa da neurotoxina botulínica A, uma proteína tóxica originalmente produzida pela bactéria Clostridium botulinum.

Essa toxina é um veneno poderoso, sendo a mesma que causa o botulismo, uma grave intoxicação alimentar.

A toxina botulínica é uma neurotoxina que impede a contração dos músculos, levando à paralisia dos mesmos. A intoxicação pela toxina botulínica é uma emergência médica, pois pode causar a paralisação dos músculos respiratórios, levando o paciente ao óbito por insuficiência respiratória.

Essa neurotoxina é um dos venenos mais poderoso que se tem conhecimento; se aspirada, basta 1 micrograma para levar uma pessoa ao óbito por paralisia difusa dos músculos do corpo.

Tipos

A neurotoxina botulínica está disponível em dois sorotipos A (BoNT-A) e B (BoNT-B). Algumas preparações disponíveis no mercado são:

  • OnabotulinumtoxinA (Botox®).
  • AbobotulinumtoxinA (Dysport®).
  • IncobotulinumtoxinA (Xeomin®).
  • RimabotulinumtoxinaB (Myobloc®).

Existem diferenças farmacológicas entre essas preparações, incluindo diferentes potências e duração da ação. Sendo assim, as doses, as indicações e o tempo de tratamento podem ser distintos.

Outras marcas semelhantes ao Botox são a Botulift® (produção coreana) e Prosigne® (produção chinesa).

Uso terapêutico

Reconhecida inicialmente como um temido veneno, após o entendimento do seu mecanismo de ação, a toxina botulínica passou a ser usada na medicina para pacientes cuja paralisação controlada de alguns músculos se mostrava benéfica.

Porém, para ser administrada de modo seguro, era preciso primeiro isolar e purificar a toxina para que esta pudesse ser sintetizada. Surgiu então o Botox®, a forma farmacêutica da toxina botulínica, que é a marca mais antiga e famosa no mercado.

Apesar de ser muito famoso o seu uso cosmético, com aplicações do Botox no rosto para tratar rugas, esta droga inicialmente foi usada para o tratamento de doenças. Como seu tempo de ação é longo, podendo paralisar músculos por até 6 meses, a inoculação controlada através de uma pequena injeção com quantidades mínimas da toxina se tornou uma boa opção no tratamento de doenças neurológicas/musculares.

Entre as principais indicações para o uso terapêutico da toxina botulínica estão:

Blefarospasmo

O blefarospasmo é uma doença neuromuscular que causa contração involuntária dos músculos ao redor dos olhos, fazendo com que o paciente pisque de modo involuntário e vigoroso.

A aplicação de toxina botulínica na musculatura ao redor dos olhos paralisa estes músculos, impedindo estas contrações indesejadas por até 4 meses, época em que é necessária nova administração da droga.

Estrabismo

Estrabismo é o grupo de doenças nas quais os olhos não ficam paralelos. Conhecida popularmente como “olho vesgo”, a condição ocorre por assimetria na contração dos músculos oculares.

A aplicação de Botox ajuda a diminuir a força muscular de um dos olhos, permitindo o alinhamento dos globos oculares.

Distonia cervical

A distonia cervical é uma doença muito dolorosa na qual os músculos do pescoço se contraem involuntariamente, causando movimentos abruptos da cabeça para os lados, para frente e para trás.

A aplicação de toxina botulínica nesses músculos do pescoço, 3 a 4 vezes por ano, é o tratamento mais indicado.

Hiperidrose

Hiperidrose é o nome que damos ao excesso de suor, que costuma acometer axilas, palmas das mãos e plantas dos pés.

Essa condição também pode ser tratada com aplicações de toxina botulínica, nesse caso não para paralisar algum músculo, mas sim para inibir o funcionamento das glândulas sudoríparas.

A aplicação de Botox nas axilas para hiperidrose axilar costuma ter melhores resultados que na hiperidrose palmar e plantar, onde a injeção da toxina, além de ser muito dolorosa, pode causar fraqueza muscular nas mãos e nos pés.

Para saber mais sobre hiperidrose, leia: Hiperidrose – Suor em excesso.

Enxaqueca

A toxina botulínica para o tratamento da enxaqueca foi aprovado recentemente pelo FDA americano. A aplicação da toxina nos músculos da face e do pescoço, a médio prazo, diminui a incidência da enxaqueca, parecendo ser uma ótima opção para aqueles pacientes com dores de cabeça frequentes.

Para saber mais sobre a enxaqueca, leia: Principais causas de dor de cabeça.

Fissura anal

Um dos mecanismos que perpetua a fissura anal é o espasmo do esfincter do ânus, que acaba por esgarçar a fissura e dificultar a evacuação. O uso de toxina botulínica ajuda a relaxar esta musculatura, facilitando o processo de cicatrização.

Para saber mais sobre fissura anal, leia: Fissura anal | Tratamento e sintomas.

Bexiga hiperativa

A bexiga hiperativa é um problema que surge por mau funcionamento da musculatura da bexiga, que não relaxa adequadamente. A falta de relaxamento faz com que a pressão interna da bexiga aumente mesmo com pequenos volumes de urina no seu interior, o que resulta em vontade de urinar com frequência muito maior do que o normal.

A injeção de toxina botulínica na musculatura da bexiga é umas das formas de trata,mento mais utilizadas.

Para mais informações sobre a bexiga hiperativa: Bexiga hiperativa – causas, sintomas e tratamento.

Fascite plantar

Há vários estudos recentes que exploram o uso de toxina botulínica (Botox) para o tratamento da fascite plantar, mostrando resultados promissores, embora ainda sejam necessários mais dados para confirmar sua eficácia em larga escala, pois a qualidade média de boa parte desses estudos não é muito alta.

Algumas pesquisas e revisões sistemáticas indicam que o Botox pode ser eficaz em aliviar a dor associada à fascite plantar, especialmente em casos crônicos que não respondem a tratamentos convencionais, como corticosteroides ou fisioterapia. Além disso, uma meta-análise recente destacou que o Botox pode melhorar a função a curto prazo e reduzir a dor a longo prazo, embora não tenha demonstrado alteração significativa na espessura da fáscia plantar.

Em termos de segurança, os efeitos colaterais do Botox geralmente são leves e temporários, incluindo dor leve no local da injeção e, raramente, sintomas sistêmicos leves como fraqueza muscular ou dor de cabeça. No entanto, ainda há debate sobre a necessidade de tratamentos repetidos, já que os efeitos podem durar cerca de quatro meses, o que pode ser uma limitação para alguns pacientes.

Falamos especificamente da fascite plantar no artigo: Fascite plantar: o que é, causas, sintomas e tratamento.

Uso cosmético

Desde o ano 2000, o Botox foi aprovado no Brasil para o uso estético no tratamento das rugas de expressão. É importante salientar que a toxina botulínica só funciona para aquelas rugas que surgem quando usamos os músculos faciais. Rugas causadas por excesso de sol e fumo não são corrigidas pelo Botox.

É preciso muito cuidado e técnica na aplicação em algumas regiões da face, principalmente ao redor da boca, para que não ocorra uma paralisia nos músculos responsáveis pela fala e pela mastigação. Se o médico não for treinado, podem surgir assimetrias no rosto devido a uma maior paralisia de um lado da face.

As fotos abaixo mostram que após a aplicação do Botox houve o desaparecimento das rugas que surgiam ao franzir a testa. O objetivo cosmético é diminuir a força muscular sem causar paralisia total do mesmo, impedindo assim, complicações como queda da pálpebra e perda da expressão facial.

O uso da toxina botulínica cosmética costuma ter efeito máximo nas 2 primeiras semanas, sendo necessária nova aplicação a cada 3 ou 4 meses.

Botox antes e depois
Toxina botulínica na face

Botox capilar

Apesar do nome, o Botox para cabelos não é realmente Botox, pois não contém na sua fórmula a toxina botulínica, que é a sua substância ativa. O nome é apenas uma analogia à forma como o produto funciona. Assim como o Botox atua relaxando os músculos e alisando a pele, o “Botox capilar” atua preenchendo as fibras individuais do cabelo para ajudar a dar-lhe plenitude e torná-lo mais liso.

O “Botox capilar” é, na verdade, um tratamento de condicionamento profundo que reveste as fibras capilares com um preenchimento, como a queratina. O tratamento preenche todas as áreas quebradas ou finas em cada fio de cabelo para fazê-lo parecer mais cheio e brilhante.

Contraindicações

As contraindicações à aplicação da toxina botulínica incluem reação alérgica após exposição prévia, gravidez, amamentação e aplicação em locais inflamados ou infectados.

Interações medicamentosas

Os seguintes medicamentos podem exacerbar os efeitos da toxina botulínica, não sendo indicado o seu uso concomitante:

  • Antibióticos da classe aminoglicosídeo (amicacina, gentamicina, neomicina…).
  • Quinina.
  • Penicilamina (não confundir com penicilina).
  • Anti-hipertensivos do grupo bloqueadores do canal de cálcio (nifedipina, amlodipina, verapamil, diltiazem…).

Complicações

A aplicação da toxina botulínica é um procedimento médico e deve ser sempre feito em ambiente médico. Lembre-se que estamos lidando com um veneno poderosíssimo que pode levar à morte se usado de forma irresponsável.

Entre as complicações mais comuns do Botox estão:

  • Dor e hematomas no local da aplicação
  • Alergias
  • Vermelhidão local
  • Náuseas
  • Dor de cabeça

Em alguns casos os efeitos do Botox acabam sendo maiores que o desejado, causando paralisia do músculo. Isso pode acarretar queda das pálpebras e/ou ausência de expressão facial quando aplicada na fronte; alterações na fala e na mastigação quando aplicadas próximo aos lábios; dificuldade para engolir e fraqueza para levantar a cabeça quando aplicada no pescoço.

Se aplicada corretamente e por profissionais treinados, o risco da toxina se espalhar pelo corpo é irrisório. Nos raros casos de intoxicação sistêmica, o quadro clínico é semelhante ao botulismo.

Perda de eficácia

O Botox e as outras marcas semelhantes são compostas por toxinas e, como consequência, toda vez que é aplicada, provoca uma resposta imunológica do organismo contra esse corpo estranho danoso. Após aplicações repetidas, o nosso organismo é capaz de criar anticorpos conta a toxina botulínica, fazendo com que o seu efeito seja neutralizado rapidamente.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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