Catapora (varicela): transmissão, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Catapora

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O que é a catapora?

A catapora, também conhecida como varicela, é uma infecção altamente contagiosa causada pelo vírus varicella-zoster (VZV), da família dos herpes vírus.

A infecção pelo vírus varicela-zoster causa duas formas clinicamente distintas da doença:

  • Varicela, conhecida popularmente no Brasil como catapora.
  • Herpes zoster, conhecido popularmente como cobreiro (Brasil) ou zona (Portugal).

A primeira vez que uma pessoa entra em contato com vírus varicella-zoster resulta no quadro de catapora. Já a reativação do vírus na idade adulta provoca o herpes zoster.

A catapora sempre foi uma das infecções mais comuns da infância em todo mundo, porém, desde a introdução da vacina em 1995, a incidência da doença vem caindo vertiginosamente.

Apenas para ilustrar a importância da vacinação: nos EUA, no início da década de 1990, todos os anos cerca de 4 milhões de pessoas contraíam varicela, 10.500 a 13.000 eram hospitalizadas e 100 a 150 morriam. Desde a introdução do programa de vacinação contra varicela em 1995, a morbidade (casos e hospitalizações) e a mortalidade (óbitos) diminuíram em mais de 90%. A cada ano, desde o início da vacinação, mais de 3,5 milhões de casos de varicela, 9.000 hospitalizações e 100 mortes são evitados nos Estados Unidos.

A varicela costuma ser uma infecção da infância. Em crianças imunocompetentes (saudáveis) até 12 – 13 anos, ela costuma ser autolimitada, tendo taxas de complicação e mortalidade muito baixas.

Em adultos, adolescentes e pessoas com imunossupressão, a catapora pode ser mais séria, com taxas de complicações mais elevadas, principalmente nos imunossuprimidos.

Transmissão

A catapora é uma doença altamente contagiosa. O vírus varicella-zoster se espalha facilmente de pessoas com catapora para outras que nunca tiveram a doença ou nunca foram vacinadas.

A transmissão da varicela é feita predominantemente através da via respiratória, por gotículas e aerossóis eliminadas pela boca ou nariz. O vírus é tão contagioso que o risco de contaminação entre pessoas que moram na mesma casa é maior que 90%. A transmissão pode também ser feita por objetos contaminados ou por contato direto com as lesões de pele do paciente.

O interessante é que o primeiro caso na família costuma ser o mais brando. Isso ocorre provavelmente pela diferença entre os tempos e a intensidade de exposição ao vírus entre aqueles que adquirem a doença na comunidade e aqueles que se contagiam em casa.

O período de incubação varia entre 10 a 20 dias. O indivíduo contaminado começa a transmitir a doença até 48 horas antes do início dos sintomas e permanece contagioso até que todas as lesões da pele tenham crostas (explicamos melhor na parte dos sintomas).

Em geral, a imunidade após um episódio de catapora é permanente, sendo pouco comum a ocorrência de uma segunda infecção. Nos raros casos de reinfecção, o quadro costuma ser bem mais brando que na primeira vez.

Após a cura, o vírus permanece adormecido e escondido no nosso corpo pelo resto da vida, podendo retornar décadas depois sob a forma de herpes zoster, conforme explicaremos mais adiante.

Sintomas

A varicela costuma iniciar-se como um quadro inespecífico de mal-estar, dor de garganta, febre baixa e perda de apetite. 24 horas após o início desses sintomas, surge a erupção de pele típica da catapora.

As lesões iniciam-se como pequenas elevações avermelhadas (pápulas) que logo se transformam em vesículas (bolhas) com base avermelhada. Algumas dessas vesículas podem virar pústulas, que são bolhas com pus no interior. Após cerca de 7 dias, as vesículas e as pústulas viram crostas, que caem ao final de 1 a 2 semanas, deixando a pele temporariamente mais clara nestas áreas.

A erupção da catapora vem “em lavouras”, ou seja, grupos de lesões vão surgindo em tempos diferentes ao longo dos dias. Isso faz com que o paciente tenha lesões em diferentes estágios de desenvolvimento, com crostas, vesículas, pústulas e pápulas espalhadas pelo corpo.

Esse padrão ajuda a distinguir a erupção da catapora das de outras doenças virais, como rubéola e sarampo, por exemplo.

Lesões de pele da catapora
Lesões da catapora

A erupção da varicela é muito pruriginosa, sendo muito comum a criança querer ficar se coçando o tempo todo. É importante evitar que o paciente estoure as bolhas evitando assim a contaminação das lesões por bactérias naturais da pele, como estafilococos e estreptococos.

Erupção da catapora: pápulas, vesículas, pústulas e crostas espalhadas pelo corpo
Erupção da catapora: pápulas, vesículas, pústulas e crostas espalhadas pelo corpo

O paciente permanece contagioso até que todas as suas lesões já tenham virado crostas, o que costuma demorar de 1 a 2 semanas. Enquanto houver bolhas, ainda há o risco de transmissão da catapora.

Para ver mais imagens das lesões de pele provocadas pela catapora, acesse o artigo: Fotos de catapora (varicela).

Sintomas nos pacientes vacinados

Eventualmente, algumas pessoas vacinadas contra a catapora acabam contraindo a doença. No entanto, eles geralmente apresentam sintomas bem mais leves, com menos ou nenhuma lesão de pele, febre leve ou sem febre e ficam doentes por um período mais curto de tempo do que as pessoas que não são vacinadas.

Muito raramente, pessoas vacinadas contraem varicela e desenvolvem doença semelhante às pessoas não vacinadas. Isso geralmente ocorre em pessoas com algum tipo de imunossupressão, que não conseguem desenvolver imunidade após a vacinação.

Complicações

Desde o início da vacinação, em 1995, as complicações da catapora, que já não eram comuns, têm se tornado ainda mais raras.

Entre as complicações mais descritas da catapora, podemos citar:

  • Infecções bacterianas da pele (contaminação das lesões).
  • Pneumonia.
  • Hepatite.
  • Encefalite (infecção do cérebro).
  • Miocardite (inflamação do músculo cardíaco).
  • Sepse.
  • Desidratação.

Outra complicação possível é a síndrome de Reye, um quadro de alteração neurológica, que pode inclusive terminar em coma. A síndrome de Reye pode ser desencadeada pelo uso de ácido acetilsalicílico (AAS ou aspirina) durante o curso da infecção. Por isso, o uso de aspirina é contraindicado na varicela.

As pessoas sob maior risco de desenvolverem complicações da varicela incluem:

  • Bebês.
  • Adolescentes.
  • Adultos.
  • Mulheres grávidas.
  • Pessoas com sistema imunológico enfraquecido, como transplantados, pessoas com HIV/AIDS, em quimioterapia, em uso de medicamentos imunossupressores ou uso prolongado de corticoides.

Tratamento

A varicela é uma doença autolimitada na imensa maioria dos casos. O tratamento em pessoas saudáveis, sem deficiências do sistema imune, é basicamente de suporte.

Deve-se evitar coçar a lesões para não ocorrer infecção bacteriana secundária. Em crianças, as unhas devem estar bem curtas. Anti-histamínicos (antialérgicos) por via oral, loção de calamina e banho frio com adição de bicarbonato de sódio podem ajudar a reduzir a coceira.

A febre deve ser tratada preferencialmente com paracetamol. Nunca se deve usar aspirina. A Academia Americana de Pediatria recomenda evitar o tratamento com anti-inflamatórios na catapora porque o medicamento tem sido associado a um maior risco de infecções das lesões pela bactéria estreptococos.

Os banhos com permanganato de potássio ou com solução iodadas, apesar de muito famosos, não apresentam comprovação científica. A higiene da pele pode e deve ser feita apenas com água e sabão.

O aciclovir, valaciclovir e fanciclovir são antivirais que podem ser usados nos pacientes acima de 12 anos, nas grávidas ou naqueles com maior risco de complicações. Os anti-virais não eliminam o vírus, mas diminuem o tempo de doença, o número de lesões na pele e os riscos de complicações.

Pacientes imunossuprimidos, ou com outras condições médicas graves, que porventura entram em contato com pessoas infectadas devem usar a imunoglobulina contra varicela para impedir que desenvolvam a doença. A imunoglobulina contra VZV deve ser administrada, preferencialmente, até 96h após o contato com um indivíduo contaminado.

Vacina

A vacina para varicela mudou a história natural da doença nos últimos anos.

Todas as crianças a partir de 1 ano podem ser vacinadas contra a catapora, assim como adultos que ainda não tenham tido a doença.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomendam duas doses da vacina contra varicela: a primeira aos 12 meses e a segunda entre os 15 e 24 meses. Essas doses coincidem com o esquema de vacinação da vacina SCR-V (vacina tetraviral).

Nos adultos, também estão indicadas 2 doses, sendo a segunda administrada com 4 meses de intervalo.

Todas as crianças, adolescentes e adultos suscetíveis (que não tiveram catapora) devem ser vacinados.

A vacina contra a varicela é feita com organismo vivo atenuado, por isso deve ser evitada em:

  • Grávidas.
  • Indivíduos imunossuprimidos (AIDS, câncer, uso de imunossupressores, etc.).
  • Pessoas que tenham recebido outra vacina de vírus vivo nas últimas 4 semanas.

Herpes zoster

Como já foi dito anteriormente, mesmo após a completa cura, o vírus da varicela permanece no nosso organismo pelo resto da vida. Ele fica escondido nas células do sistema nervoso. Não causa sintomas e nem é contagioso. Toda vez que o vírus tenta sair do seu esconderijo, nosso sistema imunológico consegue impedi-lo.

Todo paciente que já tenha tido varicela em algum momento da vida, quando apresenta alguma queda nas defesas do organismo, pode apresentar a reativação do vírus da varicela zoster.

Conforme envelhecemos, nosso sistema imunológico vai ficando mais fraco, por isso, a partir dos 50 – 60 anos existe o risco de reativação do vírus, que não se dá como um novo episódio de catapora, mas sim, como herpes zoster.

O herpes zoster é uma lesão de pele com características similares à varicela comum, porém, restrita a uma pequena zona do corpo. O herpes zoster tem uma característica: a lesão costuma ser em “faixa” e parar na linha média do corpo. A região acometida é aquela inervada pelo nervo que abriga o vírus.

Se você procura por informações sobre herpes zoster, temos um texto específico sobre esta doença: Herpes zoster: o que é, sintomas e tratamento.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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