Diabetes insipidus – Causas, sinais e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

Introdução

O diabetes insipidus é um distúrbio no qual há uma produção de grandes volumes de urina, devido a uma diminuição da reabsorção da água nos túbulos renais.

A micção frequente e em grande quantidade chama-se poliúria e ocorre quando há diminuição da ação do hormônio antidiurético (ADH), que é o hormônio que controla a quantidade de água que os rins eliminam. Sem o estímulo do ADH, os rins não reabsorvem a água filtrada e o paciente acaba por urinar com grande frequência.

Dependendo do grau de deficiência do ADH, a produção de urina pode variar de 3 litros a mais de 10 litros por dia.

Neste artigo, vamos explicar o que é o diabetes insipidus. Se você está à procura de informação sobre diabetes mellitus, um outro tipo de diabetes, que nada tem a ver com este, acesse o seguinte link: O QUE É DIABETES MELLITUS?

O que é o hormônio antidiurético (ADH)?

Para entender o que é o diabetes insipidus, é necessário antes perceber como o rim controla a quantidade de água que é excretada na urina.

O hipotálamo e a hipófise, duas glândulas do nosso sistema nervoso central, participam da produção de um hormônio chamado vasopressina ou hormônio anti-diurético (ADH, sigla em inglês). Este hormônio é liberado na corrente sanguínea e age principalmente nos túbulos renais, impedindo que os rins percam água através da urina.

O mecanismo funciona da seguinte maneira: imaginemos um indivíduo em um dia quente de verão trabalhando ao sol. Essa pessoa sua muito e como tem pouco acesso a água, começa a se desidratar. O nosso organismo é muito sensível a qualquer sinal de desidratação, e pequenas perdas de água ativam logo a liberação do ADH para o sangue.

O ADH age de duas maneiras. Uma estimulando a sede e fazendo com que a pessoa comece a procurar por água antes que a desidratação fique mais grave. A segunda é nos rins, diminuindo a quantidade de água que sairá pela urina, retardando o processo de desidratação. Quando há muito ADH circulante, a urina fica bem concentrada, com coloração e odor forte devido a pouca quantidade de água para diluir as substâncias presentes (leia: URINA COM CHEIRO FORTE). Por isso, a cor da urina é sempre um bom indicador do estado de hidratação de um indivíduo.

Agora imaginemos uma pessoa bem hidratada que se encontra em uma festa, em um ambiente com ar-condicionado e várias bebidas e comidas disponíveis. Essa pessoa começa a ingerir líquidos, e o seu organismo nota que há mais água no corpo do que o necessário. Neste momento, a hipófise suspende a liberação de ADH, e o rim, sem a presença deste hormônio, começa a excretar o excesso de água pela urina. A urina agora é bem clara, quase transparente.

Através do ADH, o organismo tem um controle muito fino da quantidade de água corporal. Pequenas alterações para mais ou para menos são suficientes para estimular ou inibir a liberação de ADH, concentrando ou diluindo a urina.

Se quiser ler sobre todas as causas de urina em excesso, acesse: URINA EM EXCESSO. O QUE PODE SIGNIFICAR?

O que é o diabetes insipidus?

A palavra diabetes vem do grego antigo e significa sifão, um sistema mecânico que permite a passagem de água de um lado para outro.

O primeiro relato de diabetes data do ano 70 D.C e descrevia doentes que apresentavam grandes volumes de urina associados a muita sede. Porém, foi somente no século XVII que se descobriu que existiam 2 tipos diferentes de diabetes. Um associado ao excesso de glicose no sangue e outro não. Estabeleceu-se, então, duas doenças distintas: o diabetes mellitus e o diabetes insipidus.

O diabetes insipidus ocorre basicamente por dois motivos:

1- uma alteração no eixo hipotálamo/hipófise que impede a produção e a liberação do ADH, mesmo em estados de desidratação;

2- um problema nos rins, que deixam de responder à presença do ADH.

Em ambos os casos, o resultado final é uma perda excessiva de água pela urina, chamada de poliúria.

Quando existe ADH, mas o rim não responde ao mesmo, damos o nome de diabetes insipidus nefrogênico. Quando há falta de produção do ADH pelo sistema nervoso central, chamamos de diabetes insipidus central.

Os doentes com diabetes insípidos apresentam grande diurese, desidratam-se facilmente e apresentam muita sede. Enquanto o doente tiver acesso fácil a líquidos, não ocorrem grandes complicações, além do inconveniente de precisar urinar a toda hora.

Se o paciente urina em excesso e não bebe água suficiente para repor as perdas, inicia-se um processo de desidratação, que, em casos mais graves de DI, pode ser severa e potencialmente fatal.

Causas

1. Diabetes insipidus central

O DI central ocorre habitualmente por agressões ao eixo hipotálamo-hipófise.

As principais causas de DI central são:

  • Cirurgia do sistema nervoso central com lesão acidental do hipotálamo ou hipófise.
  • Traumas.
  • Tumores do sistema nervoso central.
  • Auto-imune com produção de auto anticorpos contra as células produtoras de ADH (leia: DOENÇA AUTOIMUNE).
  • Genética. Algumas famílias apresentam falhas na produção de ADH por mutações genéticas.
  • Anorexia nervosa.
  • Encefalopatia hipóxica. Lesão cerebral por hipoxemia (falta de oxigênio).

2. Diabetes insipidus nefrogênico

O DI nefrogênico ocorre por uma incapacidade do ADH em agir no rim, normalmente por defeitos nos receptores dos túbulos renais. O hipotálamo produz o ADH, porém este não consegue atuar sobre os rins.

As principais causas de DI nefrogênico são:

  • Alterações genéticas nos receptores dos túbulos renais.
  • Uso crônico de lítio.
  • Hipercalcemia (cálcio sanguíneo elevado).
  • Hipocalemia (potássio sanguíneo baixo).
  • Amiloidose.
  • Síndrome de Sjögren.

Existe uma terceira forma de diabetes insípidos que ocorre durante a gravidez. A placenta de algumas mulheres produz uma enzima que inativa o ADH circulante, levando a um DI transiente, que desaparece após o parto.

Sintomas

Tanto no DI nefrogênico quanto no DI central, os principais sinais e sintomas são a sede intensa e a produção excessiva de urina, com consequente vontade de urinar a todo momento, inclusive à noite, durante o sono.

Enquanto um adulto saudável urina entre 1,5 e 3 litros por dia, os pacientes com DI produzem facilmente 10 ou mais litros de urina por dia.

Se não houver acesso fácil à água, o paciente pode ficar desidratado, desenvolvendo sintomas como boca seca, fraqueza, hipotensão, dor de cabeça e taquicardia (batimentos cardíacos acelerados).

Tratamento

Como no diabetes insipidus central há falta de produção do ADH, o tratamento baseia-se na reposição de ADH sintético por via oral ou intra-nasal. O principal medicamento usado para este fim é a desmopressina.

No caso do diabetes insipidus nefrogênico, o problema não é a falta de ADH, mas sim a resistência à sua ação. Por este motivo, não adianta usar desmopressina.

O tratamento nestes casos é feito com a redução da osmolaridade urinária. Quanto menos solutos houver na urina, menos água os rins perdem. Por isso, no DI nefrogênico, o paciente deve fazer uma dieta pobre em sal e em proteínas.

Diuréticos da família do tiazídicos também ajudam, apesar deste tratamento parecer um contrassenso. O mecanismo pelo qual o diurético parece funcionar é porque a eliminação de sódio induzida pelos tiazídicos estimula a reabsorção de água em áreas do túbulo renal que não são comandadas pelo ADH.

Se o DI estiver sendo causado por algum medicamento, o tratamento consiste na suspensão deste fármaco, o que, em geral, é suficiente para resolver o problema.

Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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19 respostas para “Diabetes insipidus – Causas, sinais e tratamento”

  1. Bruno Castello

    Mto esclarecedores os seus textos, Doutor. Obrigado e parabéns pelo seu trabalho!

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Muito obrigado pelo feedback! É sempre um prazer poder ajudar e compartilhar conhecimento através do site. Se precisar de mais informações ou tiver outras dúvidas, sinta-se à vontade para perguntar!
  2. pablo
    oie minha mae tem a diabete inspido central a 10 anos ela toma o remedio ddavp, eu moro em PALMAS-TO a estudo, minha mae mora no pará, qualquer coisa me liga 6381415160 pablo
  3. Rafael Brandao
    Ficou ótimo!! Gostaria que citasse alguma referência bibliográfica… obrigado!!
  4. ADAILSON
    Eu controlo com o uso do ddavp, mas quando o remédio vai perdendo efeito, daí volta tudo ao normal, muita sede e indo urinar toda hora.
  5. Solange Borba
    Sou portadora de DI Central a 6 anos e engordei 32Kg. Observo que o Ddavp não faz efeito quando estou em situação de grande estresse . Tenho receio também de reter muito líquido. DIgo que é um grande sofrimento não pela sede desesperadora , mas pelo mal estar geral que acompanha a sede.
  6. yvana
    Dr. Pedro,
    Gostaria que me indicasse um nefrologista em Salvador ou Recife.
    Obrigada, Yvana([email protected])
  7. yvana
    Olá Dr. Pedro,
    Sou portadora de diabetes insipidus central à 29 anos, sempre procurei endocrinologista, pois imagina que era quem cuidava disso, uso acetado de desmopressina via nasal.
    Um cardiologista receitou fluoxetina para mim, mas lendo a bula vi que causa produção inapropriada de ADH, fiquei na dúvida se posso ou não usar. Se puder tirar minha dúvida, agradeço.

    Yvana

  8. Fernando Junckes Locks
    Olá! Eu sou portador da diabetes insipidus central, posso doar sangue e órgãos normalmente?
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
      Se a doença estiver bem controlada, a principio, sim.
      1. Fernando Junckes Locks
        Eu controlo com o uso do DDAVP
        1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
          Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
          Fernando, eu tenho a impressão de que quem usa DDAVP não pode doar sangue. Não tenho certeza. O ideal é perguntar no banco de sangue para saber qual é o protocolo mais atual deles.
  9. sonia
    ola eu tenho um filho com 4 anos e sofre de diabetes insipidus central e tratado no hospital maria pia esta a sr medicado com desmopressima a kal ja toma 4 comprimidos por dia 2 de manha e 2 a no2 e ainda para a tiroide o 25 k mais cuidados devo ter com ele prnçipalmente com a alimentaçao
  10. Vitor Araújo
    Queria saber no caso da amiloidose referente ao DI nefrogênico, qual seria o tratamento?
  11. Joanaexu
    Bom dia!
    Tenho um filho de 2 anos com diabetes insipidus nefrogênica,ele parece uma criança de 1 ano ,pois é muito pequeno e magro não sei mais o que fazer.Ele é acompanhado pelo IMIP em Recife-PE,entretanto a resposta ao tratamento esta lenta, a medicação é hidroclorotiazida.Dr.O que faço?
  12. Lucas Viguache
    Boa Tarde
    Tenho Diabetes Insípidus Parcial Central (TRAUMA) devido a um acidente TCE grave, tomo
    DDAVP( acetato de desmopressina) 0,01mg/ml, de 12 em 12 hrs.
    A minha Pergunta é o seguinte. Eu posso tomar agum tipo suplemento alimentar, tipo:
    Creatina?
    Pois comecei a malhar e queria ganhar um pouco mais de massa e força.
    Obrigado pela atenção….
  13. Luciane
    Dr. creio ter o
    Diabetes insipidus central há cinco anos fiz uma cirurgia para a retirada de um tumor hipofisário , não estou em tratamento para esta doença. Qual é a complicação se eu não tomar os remédios, hoje o que sinto é que eu tomo muita água ?
    Luciane
  14. Marcio Baccelli
    Faço uso oral de um comprimido por dia de diabinese para o tratamento do diabetes insipidus, utilizo esse tratamento desde 1.999, vivo uma vida normal até então, mas gostaria de saber se devido ao uso prolangado e continuo desse medicamento, venha acarretar uma consequência para minha saúde em outros aspectos no futuro. 
  15. Ana
    Dr. Pedro,
    Gostaria de parabenizar pela explicação tão acessível. Minha mãe tinha (faleceu aos 86 anos) e meu filho de 21 anos tem Diabetes Insípidus Nefrogênico. Minha mãe só soube o que tinha quando meu filho foi diagnosticado (em pesquisa no Hospital São Paulo) quando tinha 9 meses e estava quase morrendo. Acho que o que ajudou minha mãe foi ela tomar melhoral (acidoacetilsalicílico) todos os dias. Ela dizia que se sentia bem qdo tomava, dizia que tinha dor de cabeça. Tomou a vida inteira e se sentia bem apesar de beber muita água, porém nem tanto como meu filho, que toma uns 20 litros por dia. Meu filho tomou durante uns 13 anos hydroclorotiazida e reposição de potássio. Parece que não fazia diferença nenhuma. Pelo contrário, quanto mais tomava potássio mais o potássio descia. Ele por ele mesmo se recusou a tomar mais remédios e até hoje só bebe água para se manter. Seu principal problema, hoje, é a obesidade (130 kg), coisa que estranho, porque minha mãe nunca foi obesa.
    Somos de SP capital, mas moramos em Palmas-TO há muitos anos. Apesar de aqui haver ótimos médicos sinto falta de estar perto de grandes especialistas e centros de diagnósticos.
    Leio muito sobre o assunto. Se for possível, quado souber de textos que falem sobre o tratamento gostaria de receber o link. Muito obrigada pela atenção e parabéns por exercer a medicina e ajudar pessoas.