Diuréticos (remédios ou naturais): para que servem?

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Diuréticos

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O que é um diurético?

Diurético é qualquer substância que promova a diurese, ou seja, que aumente o volume de urina produzida. Existem remédios diuréticos e existem substâncias que podem ter efeito diurético, tais como a cafeína, álcool, chá-verde e chá-preto.

Os diuréticos são uns fármacos mais utilizados na medicina, sendo úteis para o tratamento de várias doenças diferentes, tais como hipertensão, insuficiência cardíaca, cirrose hepática e insuficiência renal.

Ao contrário da crença popular, o poder diurético dos chamados “diuréticos naturais” é muito fraco e não serve para tratar doenças sérias que precisam de um aumento relevante na excreção de sódio e água pelos rins (falamos destes ao final do artigo).

Se você tem uma doença e precisa aumentar a perda de líquidos de forma relevante, o tratamento deve ser feito com medicamentos de verdade, não será um chá que irá melhorar o seu quadro.

Existem várias classes de diuréticos, cada uma com um mecanismo de ação distinto. O que há de comum entre todos os diuréticos é o fato deles aumentarem a excreção de água pelos rins, que geralmente se dá como resposta a um aumento da perda de sódio (sal) nos túbulos renais.

Neste artigo, faremos uma revisão sobre os principais diuréticos disponíveis no mercado, abordando suas ações, indicações e efeitos colaterais.

Principais diuréticos presentes no mercado

Existem 3 grandes grupos de medicamentos diuréticos: diuréticos de alça, tiazídicos e poupadores de potássio.

Diuréticos de alça:

  • Furosemida (Lasix®).
  • Bumetanida (Burinax®).
  • Torasemida.

Diuréticos tiazídicos:

  • Hidroclorotiazida (Drenol®).
  • Clortalidona (Higroton®, Hygroton®).
  • Indapamida (Natrilix®, Indapen®, Fludex®, Vasodipin®).
  • Metolazona (Diulo®).

Diuréticos poupadores de potássio:

  • Espironolactona (Aldactone®, Spiroctan®, Diacqua®).
  • Amilorida.
  • Triantereno.

Ainda existem o Manitol e a Acetazolamida, que são diuréticos usados apenas em situações específicas, que não serão abordados nesse texto.

Cada uma das três classes de diuréticos citadas acima age em um local distinto do túbulo renal, o que se traduz em indicações, poder de ação e efeitos adversos distintos.

Isso significa também que é perfeitamente possível o médico prescrever duas classes de diuréticos ao mesmo tempo. Não há nada de errado nessa conduta. Existem, inclusive, combinações já prontas no mercado, como, por exemplo:

  • Hidroclorotiazida + Amilorida (Moduretic®).
  • Hidroclorotiazida + Espironolactona (Aldazida®, Ondolen®).

Apesar do mecanismo de ação distinto, todos os diuréticos apresentam uma característica em comum: aumentam a eliminação de sódio (sal) e água pela urina. Na verdade, os diuréticos agem primariamente aumentando a excreção de sódio. Como não podemos urinar sal, o rim aumenta a quantidade de água excretada para poder diluir e eliminar esse sódio todo na urina.

Indicações

Os diuréticos são indicados principalmente para o tratamento da hipertensão e dos quadros de edema (inchaços). Os dois problemas estão relacionados a um excesso de sal no organismo, que, como consequência, provoca retenção de água.

Para o diurético exercer seu papel corretamente, é preciso que o paciente limite sua ingestão de sal durante o uso do medicamento. Não adianta nada o diurético provocar um aumento na eliminação de sal pelos rins se o paciente está se entupindo de sal na dieta. Para haver resposta clínica, é preciso sair mais sal na urina do que a quantidade consumida pela dieta (leia: Por que comer sal em excesso é perigoso?).

Entre as doenças que podem ser tratadas com diuréticos, algumas se destacam:

É preciso enfatizar que quadros de “retenção de líquidos” que não fazem parte uma doença devidamente diagnosticada não devem ser tratados com diuréticos, isso inclui, por exemplo, os inchaços que ocorrem no período pré-menstrual. O uso de diuréticos sem indicação pode provocar um efeito contrário, criando inchaços e dependência do fármaco.

Diuréticos de alça – Furosemida (Lasix®)

O mais famoso diurético de alça é a furosemida, também conhecida pelo nome comercial Lasix®.

A furosemida é o diurético mais potente no mercado. Para se ter uma ideia, em pessoas normais apenas 0,4% do sódio filtrado nos rins sai na urina, os 99,6% restantes retornam para o sangue. Com o início da furosemida, a quantidade de sódio excretada salta para 20%, um aumento de mais de 50 vezes.

O Lasix está indicado em doenças que apresentam retenção de sódio e líquidos, como insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome nefrótica e insuficiência renal.

A furosemida deve ser tomada, de preferência, duas vezes por dia. Como seu efeito dura, em média, 6 horas, este deve ser o intervalo de tempo ideal entre as duas tomadas. Portanto, se o paciente toma a primeira dose às 8h da manhã, a segunda deverá ser às 14h. Em casos mais leves, a furosemida pode ser administrada apenas uma vez por dia.

Os efeitos colaterais mais comuns da furosemida: baixa de potássio, baixa de magnésio, desidratação, câimbras, hipotensão, aumento do ácido úrico. Edema de rebote pode ocorrer após suspensão súbita do medicamento.

Apesar do seu alto poder de excretar sódio, a furosemida não é um bom diurético para o tratamento da hipertensão arterial. A não ser que o paciente tenha um ou mais das doenças citadas acima, a melhor opção para controlar a pressão arterial são os diuréticos tiazídicos.

Para mais informações sobre a furosemida: Furosemida: para que serve, como tomar e efeitos.

Diuréticos tiazídicos

Os diuréticos tiazídicos promovem uma diurese menor que a furosemida, porém, por terem um efeito que dura até 24 horas, a perda de sódio e água acaba sendo constante ao longo do dia.

Esse longo tempo de ação, associado ao fato de também terem algum efeito vasodilatador, faz com que os diuréticos tiazídicos sejam os mais eficazes no tratamento da hipertensão. Se não houver contraindicações, os tiazídicos devem ser a primeira, ou no máximo, a segunda escolha no tratamento da hipertensão.

Nos pacientes com insuficiência renal avançada, porém, os tiazídicos não funcionam bem. Neste caso específico, o melhor diurético para baixar a pressão arterial é a furosemida.

Os efeitos colaterais mais comuns dos tiazídicos são parecidos com os da furosemida, mas eles também podem provocar aumento da glicose e do colesterol em algumas pessoas. Os tiazídicos causam hiponatremia (sódio baixo no sangue) com mais frequência que a furosemida, principalmente nos idosos.

Para mais informações sobre a hidroclorotiazida: Hidroclorotiazida (diurético): para que serve e posologia

Diuréticos poupadores de potássio

O diurético poupador de potássio mais prescrito é a espironolactona. Essa classe possui esse nome porque é a única que não aumenta a excreção de potássio na urina. Os poupadores de potássio agem excretando sódio e diminuindo a excreção de potássio. Isso é ótimo para quem tem potássio baixo e perigoso para quem o tem alto.

Os diuréticos poupadores de potássio são o grupo de diuréticos mais fraco e estão contraindicados na insuficiência renal avançada.

A espironolactona também inibe um hormônio chamado aldosterona, que quando está elevado piora a insuficiência cardíaca e a cirrose. Por isso, ela é muito usada nessas duas doenças junto com a furosemida.

Os efeitos colaterais mais comuns da espironolactona são o aumento do potássio, ginecomastia e alterações menstruais.

Para mais informações sobre a espironolactona: Espironolactona: para que serve, doses e efeitos colaterais.

Chás e diuréticos naturais funcionam?

Algumas ervas e suplementos dietéticos podem ter algum efeito diurético, geralmente pequeno, ajudando na retenção de sódio e água. O problema é que não há grandes estudos sobre esses “diuréticos naturais” e sua real eficácia e segurança são desconhecidos.

A maioria dos diuréticos naturais são inferiores aos medicamentos diuréticos tradicionais e não devem ser utilizados no tratamento de doenças, como insuficiência cardíaca, doenças renais, síndrome nefrótica, hipertensão arterial, etc.

Os diuréticos, naturais ou não, também não devem ser utilizados para perda de peso, pois eles não queimam gordura, apenas eliminam água do corpo, reduzindo o peso corporal sem efetivamente emagrecer. Ninguém fica mais magro com diurético, apenas mais desidratado.

Falaremos resumidamente dos “diuréticos naturais” mais utilizados e propagandeados na Internet. Cuidado com os sites que indicam “remédios naturais” de forma pouco criteriosa, como se todos eles tivessem eficácia comprovada cientificamente. A imensa maioria não tem e muito podem até ter efeitos colaterais graves.

Cavalinha

A cavalinha é um remédio à base de ervas feito da planta Equisetum arvense. Ela tem sido usada como diurético há anos e está disponível comercialmente como chá e em cápsulas.

Apesar de seu uso convencional, a sua ação diurética aprece ser fraca. Poucos estudos foram feitos sobre a substância e o grau de evidência da sua eficácia e segurança a longo prazo é muito baixo.

Para ler a avaliação do Comitê de Medicamentos à Base de Plantas da Agência Europeia de medicamentos, acesse o link (em inglês): https://www.ema.europa.eu/en/medicines/herbal/equiseti-herba

Dente de leão

O extrato de dente de leão, também conhecido como Taraxacum officinale, é um suplemento de ervas popular frequentemente tomado por seus efeitos diuréticos.

O dente de leão tem sido sugerido como um diurético potencial devido ao alto teor de potássio da planta. No entanto, o conteúdo real de potássio do dente-de-leão pode variar, assim como seus efeitos.

Não existem evidências de qualidade sobre a eficácia do dente de leão e há poucos estudos em humanos.

O alto conteúdo de potássio é uma preocupação, pois muitas doenças que causam edema e retenção líquidos estão associados a níveis elevados de potássio no sangue, principalmente insuficiência renal e insuficiência cardíaca, torando a utilização dessa substância perigosa.

Cafeína

Altas doses de cafeína, entre 250–300 mg, o equivalente a cerca de duas a três xícaras de café, podem apresentar efeito diurético pequeno.

No entanto, esse efeito parece ser de curta duração, pois os rins desenvolvem tolerância à cafeína e o efeito diurético desaparece.

Chá-verde ou chá-preto

O teor de cafeína do chá-verde e preto tem um efeito diurético pequeno. No entanto, assim como ocorre com qualquer bebida à base de cafeína, esse efeito vai sendo atenuado à medida que as pessoas desenvolvem uma tolerância. Portanto, é improvável que esses chás atuem como um diurético de forma efetiva a longo prazo.

Hibisco

Hibiscus sabdariffa L. tem sido tradicionalmente utilizado como alimento, em bebidas à base de ervas, em bebidas quentes e frias, como agente aromatizante na indústria alimentícia e como fitoterápico.

Porém, assim como todos os “diuréticos naturais” não há evidências de qualidade sobre a sua ação diurética. Na verdade, a maioria dos estudos sugere falta de eficácia.

Cáscara sagrada

Utilizada habitualmente com laxante, não há evidência de que contenha qualquer ação diurética relevante.

Centelha asiática

A Centelha asiática costuma ser utilizada na medicina alternativa para tratar vários distúrbios de pele e feridas leves, sem eficácia clínica e de segurança confirmadas cientificamente. Não há evidências de ação diurética relevante e a erva pode ter efeitos adversos na função hepática quando usada por muitos meses.

Salsa

A salsa é usada há muito tempo como diurético na medicina natural. Tradicionalmente, é preparado na forma de chá e tomado várias vezes ao dia para reduzir a retenção de água.

No entanto, nenhum estudo em humanos demostrou a eficácia da salsa como diurético.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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